a mão e o peão.

Tuesday, October 31, 2006

música

sigur rós - hoppípolla



sigur rós - svefn-g-englar

Monday, October 30, 2006

as gurias

os que se juntaram à beira de um mar, têm hoje um oceano a separá-los.
atlântico, que foi de bravura, quanto de medo e vontade teve.
e o homem, para sempre enviesado, julgou-se descobridor e sabedor, primeiro.
na língua portuguesa nos descobrimos, pelo brasileirinho de doces vozes escorregámos.
pelo sorriso aberto e franco, três corações de fibra e mel.

Sunday, October 29, 2006

pergunto-te

e a ti, o que te faz chorar?
(vergonhosa, mas irreprimivelmente, plagiado de descontroladoaltodeleite.blogspot.com.)

manifesto pessoal

Saturday, October 28, 2006

cvalda

um tributo aos filmes musicais, um tributo a björk, verdadeira diva dos anos 90, um tributo a lars von trier e a todos que, de alguma maneira, criaram, participaram e possibilitaram (n)a verdadeira magia de dancer in the dark.


Friday, October 27, 2006

o tecto (reminiscências)

não fosse a ténue luz, vinda do candeeiro mesmo à janela do quarto, mal se via. seria do candeeiro ou da lua? a luz? nem uma racha, uma pequena infiltração, uma mancha de champanhe ou humidade, um ponto mais escuro. acordamos no dia seguinte e perguntamo-nos como conseguimos adormecer. da nossa última e eficaz ratoeira ao cérebro que não quer descansar. os sonhos eróticos, as poluções. sem saber o que dizer às mães quanto àquela nódoa. mas os sonhos são legítimos. a síndrome do desejo impossível. só à noite. as proporções desejadas, o realismo tão lascivamente querido. uma ideia que seria, virtualmente, melhor que a própria experiência, isenta de erros, de defeitos, de disfunções. e, de manhã, que rejubilo e que fome. satisfaz-se o carente, de ilusões e de sonhos. não se contentavam com migalhas os tolos. de utopias, e de miragens e de sonhos vivem os tolos, como eu. carpe diem. merda porque são felizes. merda para os que vêem tudo negro. merda para todos, merda para mim. o tecto. vulgar e branco, antes de adormecer. o baloiço esperava por ela, como se a chamasse, numa linguagem que só ela compreendia. um nevoeiro, cada vez mais cerrado, impunha-se entre ela e o baloiço. o nevoeiro havia encoberto todo o seu corpo, como um manto levemente identificado e asfixiante. a querer tomar-lhe controlo. dissipava-se, levando-a com ele. desvanecendo sobre o jardim de betão e aço. acordou espavorida. lembrar do sonho que tivera. um baloiço antigo, pintado à mão, com cores garridas. chiava, que tinha já um pouco de ferrugem. como lhe tinha sido difícil adormecer. e de novo olhou o tecto. talvez porque a aspiração dos homens não seja subir, talvez porque não precisa que lhe varram o pó.

anti-fundamentalismo

o caos é uma ordem por decifrar.
livro dos contrários, in o homem duplicado, josé saramago

outra fotografia

parc de la ciutadella, barcelona, el dimarts, 18 d'octubre de 2005

ainda no outro dia, via eu a tua foto em anúncios pegados às caudas dos aviões, em letras garrafais, que gritavam só para mim o teu não. hoje, assisti a recordações que desfilavam, de pessoa em pessoa, em cada uma, um sorriso, em cada uma, um brilhozinho nos olhos, inconfundível. curioso, e inestimavelmente precioso, o acto de deixar gravados num papel, momentos passados. a ordem das coisas, tal qual era naquele momento, é irrepetível, aquela fracção de segundo é inimitável, para sempre intangível. e, no entanto, que recordação mais fiel que um verdadeiro momento, um verdadeiro instante da conversa na ciutadella, deitados na relva, pessoas que tocam djambés, ao longe, gritos e gargalhadas de fim de verão, a cidade imensa, plasmada no céu, azul, por cima de nós? que recordação mais fiel do meu estado de espírito, da sensação de possibilidade que me enchia o estômago, que me enchia os poros da pele, que me enchia os olhos? o infinito cabe, facilmente, no finito, assim o queiramos. aqueles meses por vir, eram, para mim, o palco de todas as hipóteses, a mesa de casino onde tudo seria jogado, o estrado onde tudo seria vivido. como um leque, os caminhos abriam-se à minha frente, todos possíveis e todos maravilhosos. naquela fotografia, um instante e uma esperança tão grandes, o sol a reverberar nos cabelos da margarida.

Tuesday, October 24, 2006

save me, aimee mann

can you save me from the ranks of the freaks who suspect they could never love anyone?

fotografia

a tua foto nas paredes. a tua foto nos outdoors, um sorriso do tamanho de um prédio. a tua foto, sorrindo, lateralmente a passar por mim, num autocarro. a tua foto a dobrar a esquina, a recolher pessoas que se protegem da chuva com chapéus e gabardinas. numa paragem. a tua foto a deslizar para cima e para baixo. para cima e para baixo numa estação de metro, cheia de pessoas com pressa. a tua foto quando dobro uma esquina, logo depois de chegar à conclusão que já não sabia quem tu eras. a tua foto que me agride, explodindo em néons, explodindo em pixels, explodindo-me. a tua foto que me deixa de rastos. aninhado numa valeta, enquanto todos os autocarros que passeiam alegremente a tua foto me passam ao lado, encharcando-me de água, de lama e de vergonha. a tua foto que me persegue. nas casas de banho públicas, nos quadros da escola, quando as pessoas viram a cara, a tua foto que me surpreende, me apanha desprevenido, com as defesas em baixo, vulnerável. hoje pensei: e se eu não aguentasse isto? vejo a tua foto, na camisola de alguém que passa na rua, alheio. e se eu me passasse de vez? na minha casa, caiu uma parede, as outras mal se sustentam. no espaço que ocupava, está uma foto tua, a mais cruel de todas e tu que nada sabes.

número 53

procura-se pessoa paciente que saiba ouvir (sem interromper) e que saiba falar (sem erros). que saiba ver o melhor que há em mim (daí, o paciente). que saiba aceitar o pior que há em mim. que me abrace à noite, antes de dormir.

cinema

caíste tão depressa:
inanimada, como que em desamparo.
a câmara trémula que seguro
seguiu com precisão o teu movimento à ínfima do momento.
quase que seria possível
com um bisturi bem afiado
separar na fita
os milésimos de segundo
em que o teu corpo em queda
está num e só num
espaço.

não quero que te levantes:
fica no chão, com o corpo derretido no chão,
plasmado no chão,
como um quadro em relevo.
altera-se a mise-en-scéne, despede-se o realizador, suborna-se o argumentista.
eu opero a câmara
eu sou o artista, o escultor.
e o processo é invertido:
de um corpo de mulher faz-se um bloco de pedra.
quero-te em pedra.
quero-te morta
neste meu cinema,
onde as mulheres morrem, se desintegram e submergem
numa celeridade em ciclo.
aliás,
como tudo o resto.

to tolerate or not to tolerate.

um assunto que sempre me deu bastante que pensar foi o da tolerância. obviamente, não se deseja a tolerância completa, ao extremo a indiferença ou a anarquia: há limites para essa tolerância, creio estarem onde a nossa liberdade invade a do outro. mas dever-se-á impor essa barreira em estrita relação aos actos, ou, também, às ideologias? é crime - no nosso país e, suponho, noutros, também - defender e propagar ideologias de cariz nazi, ou fascista. mas será que, quando essas ideologias não se concretizam em actos de discriminação ou violência, se pode, eticamente, condená-las? não digo de um ponto de vista humano, como, sem dúvida, são condenáveis, mas de um ponto de vista legal. porque é como a história da pedofilia. ou semelhante. uma pessoa cujas fantasias sexuais se dirigem somente a crianças pode fazer pouco para impedir esse desejo de lhe aflorar ao sangue. pode fazer muito para impedir esse desejo de aflorar ao sangue (e a outros pontos anatómicos menos metafóricos) dessas mesmas crianças. tenho para mim, mas isto é só teoria, sem qualquer confrontação com a situação, que o desejo em si não poderá ser castigado, patológico ou não, é tão franco com o desejo de qualquer pessoa por outra da sua idade, sexo oposto ou igual. é irreprimível e creio que todos sabemos bem o que isto significa. o acto, sim, é reprovável. abjecto, até. confesso que não me choca mais que uma "simples" violação a uma mulher adulta, o repúdio é igual. bastante.
voltando às ideologias. poderá a tolerância abarcar posições intolerantes, para com os outros (ou "alguns dos outros")? ou deverá traçar o limite antes disso? poder-se-á chamar tolerante àquele que condena a intolerância? pisando terreno político (no qual, eu sou a última pessoa a ter em conta), diria que é a fronteira que separa a democracia do que quer que se lhe opõe (totalitarismo?). poder-se-á falar em censura na democracia quando se boicotam acções de propaganda de ideologias nazi?
esta temática surgiu-me mais prementemente desde que li o blog de um cidadão defensor de um regime totalitário, que regulasse o que os habitantes pensassem e dissessem ("porque se diz muito neste país sem se saber do que se fala") no sentido de pensarem e dizerem melhor (suponho), muito pouco permeável a estrangeiros e, se possível, com um tarrafal onde se enfiassem "esses prevaricadores dos homossexuais". não vou citar o nome do referido blog por respeito a mim próprio, mas poderão ver reacções em devaneiosdesintericos.blogspot.com ou fishspeaker.blogspot.com. e eu penso: como poderemos "intolerar" a posição do referido cidadão quando, supostamente, o dizemos do alto do pedestal democrático? não estaremos a cair numa contradição desonrosa? não será melhor simplesmente ignorar semelhantes opiniões? calculo que sim. mas tentem lê-lo e resistir à tentação de deixar um comentário a insultar não só ele ou a mãe mas todas as trinta gerações que lhe antecederam e mais as que lhe sucederão. há coisas que, simplesmente, não se podem tolerar!

Sunday, October 22, 2006

parte de seu mundo

ai, o que eu amo este filme!

danish beaches

portraying guigui, tiago, ana sofia, miguel e ruben numa estância balnear (vulgo, praia) dinamarquesa - julho 2006.









Sunday, October 15, 2006

fio do mundo

deparo-me com o meu caminho, numa tarde qualquer.
num setembro vivido em esquecimento.
que as pessoas trabalham para esquecer,
sabias?
à minha frente
estende-se uma alameda de árvores.
robustas e perenes, como pilares de um templo qualquer.
neste não-tempo crepuscular,
uma coisa é sempre qualquer coisa,
está ali por acaso
e vive uma vida-qualquer. como eu.
reificado, sou um qualquer
e os meus olhos a arder de lucidez
(estonteante, como qualquer lucidez)
são como as folhas tristes e mortas,
que bailam a sua dança do adeus, até ao chão.
por entre os troncos, através das folhas,
o vento. uivando, sofrendo a espaços uma dor fininha.
sei que tenho de seguir,
com as nervuras das folhas a fustigarem-me os olhos e a língua.
sei-o e no entanto.
os braços quedam-me, as pernas e as articulações balofas.
feitas de ar parado, que não se rebela nem me entesa.
trapo anímico, cheio de vontades e tão
tão
vazio de força e impulsão. lá ao fundo
ouço um piano, em solilóquio de ensejo.
o vento estala-me a pele
e chora nas feridas. as folhas bailam, revoluteando
caem. o fio do mundo
estica e corta-se (o meu fio).
já não há nó a dar,
sabias?

número 47

hoje, assisti a um concerto de música clássica. ao meu primeiro concerto de música clássica. um violino, um oboé, um cravo e um trasverso (uma espécie de violoncelo, com um som cavo e pétreo), em sinfonias renascentistas, ou rococós, de bach e um outro compositor, cujo nome se me passou. ali, naquela sala apinhada (para grande espanto meu, devo dizer), pus-me a pensar nos filmes que aqueles acordes evocariam em cada uma das pessoas que ali estava. eu via, nitidamente, o fru-fru de um vestido comprido, de dama antiga, a ressoar nos corredores de um palácio; uns sapatos de lona brancos, delicados, em entoações de danças ordenadas, num salão presidido por um enorme lustre barroco. perucas solenes. ou então... via um regato preguiçoso, nas notas soltas e pueris do oboé, uma criança viva, em risadas simples. a música enche-nos e leva-nos. perguntava-me se as outras pessoas ouviriam simplesmente a música, não se distrairiam por ensejos da memória ou arrufos de imaginação. se, simplesmente, não sentiriam as notas, martelando-lhes aos ouvidos uma sinfonia em tons. pensei perguntar ao nuno mas não o fiz. não quis arruinar-lhe o momento: talvez fosse, mesmo, interromper-lhe um sonho. cada nota seguia a outra de uma maneira tão lógica que parecia só existir na sequência da anterior. a música é irreprimível. insustentável. e muito leve. qual rato de hammelin, sigo-a, sigo-a, sigo-a, sigo-a...

Saturday, October 14, 2006

acidentalmente

my sorrow and my bliss come in
proportionate amounts.
and one elicits the other in a
wonderfully tricky way.
through the window i see and i fall
up the stairs, stumbling, i go.
that's my major incoherence
and my sip of stability.
i never ever stop.

crónica

eis que surge a crónica (necessariamente, pessoal) da festa do oitavo aniversário do lux, terça-feira, 10 de outubro de 2006.
tudo começa com um convite da ju, na terça à tarde, dificultado por inúmeros factores: a saída em si (a meio da semana, quando a relação com o meu pai não anda, propriamente, estável ou amigável), el hecho do disfarce (where da hell vou eu encontrar, à última da hora, roupa para ir mascarado à personagem almodovariana ou felliniana?), o convite ser dirigido a um artista plástico português, relativamente conhecido, e ser intransmissível. como deveis calcular, todos estes obstáculos foram superados, com a graça que nos caracteriza! but first things first...
lá nos encontrámos no largo de camões: eu, a ju, a pimpista (que já não via há imenso tempo e que continua igual) e o namorado dela, o diogo. a ju trazia um malão vermelho, cheio de roupas, acessórios e pinturas para a transformação referida. fomos encontrar a reta e o namorado, o rodrigo, num restaurante ali perto e fomos todos para a a escola de dança onde trabalha a reta, para procedermos ao acto do disfarce. naturalmente, já os rapazes estavam vestidos e mais que prontos, ainda andavam elas com blush pá frente e verniz pa trás, põe chapéu, tira boina, experimenta sapatos, florzinhas na cabeça, peinetas, postiços, etcétera. quando saímos, o cenário era o seguinte: eu, o diogo e o rodrigo mascarados de máfia italiana, anos 50; a ju, de lola, no volver; a pimpista, com um vestido branco à marilyn, podia também passar por sophia loren e a reta, de fato, boina e colar de pérolas, à anos 20. todos comme il faut. eu fui de carro com a ju e eles de táxi e encontrámo-nos à porta do lux. à porta, é como quem diz, porque a fila percorria toda a rua dos armazéns e chegava à passadeira que dá para a estação de santa apolónia! aí nos metemos. foram duas horas e meia até entrarmos (isto, porque não quisemos entrar de surra, infiltrando-nos no amontoado de gente que se aglomerava à entrada – chamem-nos cívicos – obviamente, outras pessoas houve que não se importaram tanto: com certeza, estariam aflitas para ir à casa-de-banho e, só por isso, desrespeitaram a ordem de chegada). pelo caminho, muita coisa aconteceu (e, no final, já não éramos os mesmos entusiastas, cheios de pica, que se juntaram à fila – embora o bar aberto prometesse remediar isso). arribou-nos aos ouvidos que, à entrada, teríamos de matraquear cinco filmes do almodóvar e cinco filmes do fellini ao senhor porteiro. pois que duas miúdas, atrás de nós, ouviram e pediram-nos ajuda para a referida tarefa. o diogo começou por dizer-lhes os cinco do almodóvar e, quando diz «fala com ela», uma das moças replica: ah, eu já ouvi falar disso, «fala com ela», mas não sabia que era dele. o caro leitor poderá imaginar a onda de choque que perpassou pelo nosso grupo, não traduzida, contudo, em assassínio impiedoso (por um triz, dever-se-á acrescentar).
havia certas personagens, comummente designadas por travestis, que se passeajavam fila acima e fila abaixo, agarrando-se aos moços incautos a proferindo graçolas de mau gosto (do género: aaaaaiii filho, não me atropeles – matar uma bicha dá 10 anos de azar!). já estava tudo um bocado farto das intervenções delas (ou então, era mesmo só eu, a quem estas cenas irritam ligeiramente). até que veio uma meter-se connosco e começámos a queixar-nos da má organização da festa, que, tendo emitido milhares de convites, não abria mais que uma porta de entrada, deixando os convidados na fila tanto tempo. pois que ela também tinha as suas reclamações a fazer e ali ficámos, a destilar amarguras. não, de facto, a senhora foi simpática e a má-disposição passou-me logo. um pormenor: sabendo eu que aquela mulher era, na verdade, um homem e que todos os homens, não eunucos, possuem um certo volume na região pélvica, fiquei deveras surpreendido com a ausência do referido na referida pessoa. ainda pensei perguntar-lhe: olhe, desculpe lá, mas onde é que está a sua pila? mas, depois, reconsiderei.
entretanto, iam passando celebridades por nós (todas ocupadas em passar à frente da plebe e entrar na festa): era a lili caneças, era a rita blanco e o fernando luís, era o nuno lopes.
enfim, entrámos. infiltradíssimos, mas entrámos. não nos pediram filmes, não nos perguntaram que personagens éramos (eu, que já não sabia se estava mais almodovariano ou felliniano, inventara um pintor espanhol, chamado javier, n’«a lei do desejo» - seguramente, o porteiro não conheceria todos os filmes do almodóvar, porra!). o senhor, simplesmente, olhou para mim e para a ju, disse: que bela espanhola e depois o nome no convite: dora (que é a esposa do supracitado artista). entrámos, enfim. um ambiente fantástico, projecções na parede de excertos dos filmes, sofás e otomanas por todo o espaço (um apêndice que juntaram à discoteca), pessoas, todas mascaradas, todas com ar e andar de quem se estava a divertir imenso. a noite tinha começado.
primeira paragem: bar. havia que afogar as más ondas que, inexplicavelmente, percorrem uma pessoa depois de duas horas e meia em pé, numa fila. confesso que, a partir daqui, a minha memória não será absolutamente fidedigna. lembro-me de estar dentro de uma jaula, a encenar uma cena de dança meio sado-maso e encontrar a sílvia, de barcelona. lembro-me de ficar histérico. lembro-me de me roçar pelas paredes com a ju, de me roçar nela e de fazermos trinta por uma linha (até, imagine-se, passos de danças de salão). lembro-me de vir um miúdo falar connosco, dizer-nos que estávamos fantásticos e perguntar se éramos namorados. lembro-me de bebermos shots de vodka com redbull, oferecidos pelo hugo, um amigo da ju que trabalha no lux, com uns trajes ridículos que em nada fariam prever a sua heterossexualidade. de a ju ter perdido as peinetas e de termos visto o pedro granger a dançar sozinho. de tirar o meu chapéu de feltro vermelho, à ilusionista. de fazer xixi naquelas casas-de-banho descartáveis e falar aos gritos com ela, que se encontrava umas quantas casas-de-banho ao lado. de dançar entre a pimpista e a ju, de fazer as macacadas mais teatrais. de encontrarmos a tatiana e a filipa e de as perdermos de vista. lembro-me de sentir que éramos os reis da festa, eu e a ju, a fazer parvoíces, a dar espectáculo, aproximando-nos, perigosamente, da embriaguez completa. lembro-me de vomitar.
agora, o que eu não me lembro. não me lembro de sair do lux, de a ju me ligar, ir ter comigo até ao carro, abrir-mo e eu deitar-me. não me lembro, mas também não me parece que tenha perdido memórias muito interessantes.
acordámos à uma da tarde, dentro do carro, abafados, estacionados em frente ao lux. acordo com o sol a bater-me na cara e um enjoo indescritível. desperto a ju, ela abre a porta e vomita no chão. a custo (depois de uma boa meia hora), mudo de roupa, ela liga o carro e partimos.
para o ano, seja como dora, seja como for, estaremos lá. tenho dito.
p.s.: espero completar esta crónica do rise and fall, com uma foto ou duas. keep in touch!

Thursday, October 12, 2006

"el desierto", de lhasa de sela

He venido al desierto pa'reirme de tu amor
Que el desierto es mas tierno y la espina besa mejor

He venido a ese centro de la nada pa'gritar
Que tu nunca mereciste lo que tanto quise dar

He venido yo corriendo, olvidándome de ti
Dame un beso pajarillo, no te asustes colibrí

He venido encendida al desierto pa'quemar
Porque el alma prende fuego cuando deja de amar

Monday, October 09, 2006

número 43

o sabor da rejeição é azedo e, por mais que enxague a boca, dias há em que toco com a língua num dente e o sinto, de novo. de novo arrepanho os lábios, se me acelera o coração, o estômago se me contrai. de novo, como se fosse outra vez, de novo como uma nova rejeição, a mesma, aquela. it's bitter, so, so bitter.

Sunday, October 08, 2006

outrem

nalgum ponto, as coisas terão de começar a correr-me de feição, não? aquelas que são realmente significativas, poderosas o suficiente para me tirarem o sono, quando é dele que mais me valho, nestas tardes de domingo. mal tenho mão no que penso. em ti.
o teu jeitinho põe-me doida. o teu jeitinho arrapazado, o teu sorriso de esguelha, tímido e provocador.
descobre-me o corpo que nunca, ninguém descobriu. descobre-me o corpo e acha-me a alma. se soubesses... se pudesses sentir o quanto quero mergulhar em ti quando te toco. descobre-me, miúda. não quero ficar guardada num baú. não quero que me vão sacudindo o pó, de quando em vez. quero que me laves e descubras, debaixo de toda esta sujidade, por debaixo de todos os vincos e trilhos das lágrimas, por debaixo das nódoas negras de dor, por debaixo da desesperança, a felicidade e o amor que guardo.
descobre-me lá. miúda.

número 41

"your new boyfriend's a bitch!"

Saturday, October 07, 2006

frankie


hoje, às 14.30 no cinema são jorge, «frankie», do festival de cinema francês, com banda sonora das cocorosie :) eu vou.

Friday, October 06, 2006

apreensão (não rias tão alto que te caem os dentes)

sou viciado em tudo o que me ponha triste. talvez seja por isso que é difícil esquecer-me de ti, da tristeza associada ao teu nome.

não rias tão alto
que te caem os dentes

naqueles dias
quando a felicidade é uma taça cheia
donde juntos sorvemos
quando a realidade
é um pasto verde e vasto
onde corremos descalços
e o sol brilha
ou a chuva cai e mal cai o calor da terra a sopra
e há sombras e pássaros piando nelas
quando os livros
são simples compêndios de frases simples
que dizem tudo
quando a água tem peixes
e as plantas bichos pequenos e joaninhas
quando há raízes onde nos sentamos
e os sentimentos não pesam nas palavras
quando nos beijamos sorrindo
e sorrimos aos beijos.

não rias tão alto
que te caem os dentes
não voes tão alto
que te ardem as asas.

janela

pelas janelas, os pós de vidas atiram-se do alto, afundam-se no ar fervilhante e irrequieto da noite em lisboa. revelam-se em raios de luz furtivos; revelam estilos, padrões ou direcções de hábitos, e interesses. do largo de são carlos, bastou-me erguer a vista e encontrei-a insinuante, a prometer-me. curioso, espreitei doutro ângulo. afigurou-se-me uma vida escorreita, entre uns copos tranquilos, de terça-feira, no bairro alto, uns passeios crepusculares pela almeida garrett, ou manhãs que despertam bem cedo e trazem o castelo e alfama bem presos ao horizonte; corpos que balançam na bica. de manhã e ao anoitecer, é quando mais amo esta cidade. quando o cheiro a mar pende das asas das gaivotas, e se degusta o sabor a mudança, a reboliço, a lisboa em transição. desço a do alecrim e desaguo no cais, escondo os olhos no rio, perco o corpo pelos carris. nunca chego aonde quero, mas gosto sempre de onde estou.
lisboa é uma cidade que cresce, e, ao crescer para nós, como que mingua, abre-se-nos, revela-se-nos. será possível tocar tudo o que uma cidade tem para nos dar?

Thursday, October 05, 2006

sou só eu quem fica irritado com estas coisas?

questiono-me seriamente se não deveria haver uma lei (ou mesmo, um código inteiro) que protegesse os fiéis e cívicos utilizadores das salas de cinema portuguesas de pessoas que falam e/ou cochicham durante a sessão, que se riem estupidamente alto em cenas com carga emocional ou mastigadores compulsivos de pipocas nos nossos ouvidos. uma das medidas a tomar seria proibir o ajuntamento de mais de três pessoas com menos de 18 anos numa sala de cinema que não esteja a passar um filme com o adam sandler (a não ser que seja o pt anderson a dirigi-lo), o ben stiller, o owen wilson ou o chris rock. no filme que fui ver hoje, eram uns vinte, todos mais interessados em mandar bilhetinhos uns aos outros ou em dar calduços no da frente e fingir que estão interessados no filme, quando, no final, não saberiam explicar metade da estória... grrrrrr!!
'bora para o abaixo-assinado? força aí nos comentários!

Wednesday, October 04, 2006

número 36

tiago e marlene (aka os desgraçados) - planos para a noite: lady in the water e incógnito (noite de djs ingleses). espero voltar a escrever em português, amanhã.

into the west

how come i feel so empty, every once in a while? it is not some despair, one of those uncontrollable crying sessions, or pure sadness. i sense it more like the emptiness of a life that’s finished before being appropriately lived. the resentment of leaving behind your so well-thought plans, the ones you were to love. melancholy speaks in english to me, don’t ask me why. it’s not a stomach-ache, although it feels my guts are being strangled. i can’t decide whether I feel like crying or not moving at all. they come to me in tears, pounding me with their problems, which are mine too. and i’m not able to solve them, i can’t even share a word of peace, or a hug. i'm as useless as one can be, sometimes. strangely, i get the feeling that writing in english is safer: like i could say all this, not saying, not being understood, which is foolish. anyway, my head’s heavy, my heart’s heavy. it seems like i have no love to give, and that’s the most scary thing a human being can experience.

número 34

crença irracional do dia (duma vida?): toda a gente tem de gostar de mim e eu tenho de agradar a toda a gente.

Sunday, October 01, 2006

suckin' on my titties, like you wanted me, callin' me all the time...

terça-feira, paradise garage, alcântara: peaches. depois de, num solavanco, me ter sentado ao colo duma senhora no eléctrico, fomos (eu e a anita) à procura de um estabelecimento que servisse uma comidinha. o ambiente das ruas e a luminosidade decrescente não convidavam a grandes incursões e ficámo-nos mesmo pela marisqueira que ficava mesmo ao pé do paradise. um prego e uma imperial. a marisqueira começava a encher-se de pessoal de aspecto alternativo. não nos parecendo que aquela fosse a clientela habitual da marisqueira (havia um empregado que chamava todas as atenções: de baixa estatura, bigodinho hirsuto e cabelo dividido num risco ao meio atabalhoado, tipo bigode-de-morsa... simplesmente, imperdível!), chegámos à conclusão que toda aquela gente havia vindo para o concerto (sim, somos mesmo perspicazes. mas mesmo, mesmo!). faltava uma meia hora e fomos ter com a diana à entrada - umas piadas, as mesmas, que mantêm a sua capacidade cómica, pelo simples facto de estarmos os três. entrámos. todas as pessoas que já tinham entrado estavam encostadas aos balcões laterais. obviamente, fomos logo encostar-nos à grade e, assim, ganhámos um poiso priviligiado, para ver de perto as ordinarices da pêssegos. entretanto, começava a amontoar-se gente por detrás de nós. um rapazinho, decerto na sua inocência, achou por bem roçar incessantemente o seu órgão nos glúteos da anita, enquanto me dava cotoveladas (percebem a técnica? seduz-se a fêmea e, ao mesmo tempo, afasta-se o macho rival). fez a primeira parte do concerto, uma senhora que, à primeira vista, nos pareceu a alexandra solnado (sim, aquela que fala com jesus cristo), mas depois abriu a boca e percebemos que o chalamento que a afligia era de outra índole (não deixando, por isso, de ser menos grave). adiante. a senhora até tinha uma voz bonita, uns agudos muito afinados e melodiosos, e umas canções que, depois de se estranharem, entranhavam-se. mudando de chapéu amiúde (não tão amiúde quanto a britney spears muda de roupa, no entanto), cada um mais estranho e menos funcional que o outro, fez parte do concerto em cima duma cadeira branca (toda ela vestida de branco), alisava vezes sem conta a franja contra a testa e disse que lisboa era a sua cidade preferida. o pessoal já estava todo em pulgas pela peaches. acabou o concerto da senhora (cujo nome, vergonhosamente, não me lembro - vaias...) e passaram umas músicas animadas, no intento de aquecer as gentes (o shake your groove thing «partiu o plhit u»!). eis senão quando, essa grande chaladona aparece em cima do balcão do lado esquerdo como quem olha para o palco e direito como quem olha dele (e isto é bastante importante), cantando o «tent», com o chapéu com que aparece na capa do seu novo cd, «impeach my bush». daí, partiu para o palco e foi all hill-up from there! a sua banda: um rapaz de aspecto meio efeminado, meio másculo (parecia o del marquis dos scissor sisters), na guitarra ou no baixo (nunca sei), uma moça que mais parecia um gandulo de banda desenhada, na guitarra ou no baixo (consoante o instrumento do anterior) e uma gaja tipo blondie (platinada, de pálpebras azul-turquesa), na bateria. começaram por canções mais rock, em que as guitarras eléctricas faziam estremecer o estaminé e passaram depois para uma onda mais electro, em que as guitarras foram substituídas pelos órgãos. pelo meio, passaram canções com títulos tão sugestivos como «hit it», «lovertits» - grande momento, «shake yer dix» - em que o pedido foi: i wanne see you all shaking those dicks!, «slippery dix», «i u she» ou «stick it to the pimp». entretanto, a anita quase se envolvia numa disputa pacífica (ou nem tanto) por um concerto calmo, sem encontrões e sem ter uma gaja estúpida de cabelo vermelho (que, sem qualquer relação com a contenda, lhe ficava horrivelmente mal) a bater palmas ao seu ouvido. felizmente, a peaches atraía bem mais as atenções e a querela ficou-se por uns olhares intimidantes (que resultaram). a peaches ia-se despindo, subiu para a grade (uma miúda, que devia ser fãzíssima, entrou em histerismo e tocou-lhe em todo o lado que agarrou), trouxe um enorme caralho de plástico para o palco e ia dizendo uns obrigados. depois de «fuck the pain away» (suckin' on my titties like you wanted me, callin' me all the time like blondie, check out my chrissy behind: it's fine all of the time like sex on the beaches. what else is in the teaches of peaches? uhh! what?...) - brutalíssima, veio aquela altura em que temos de gritar muito alto para eles voltarem ao palco, quando já sabemos, de antemão, que eles voltarão anyway, porque faz parte do alinhamento. entrámos no auge quando soou o «operate», já no encore - ela, de botas prateadas, até à coxa, com uns saltos de vinte centímetros, a abrir as pernas tipo marlene dietrich no «anjo azul». com uma energia vibrante e batidas óptimas, foi quase impossível não nos mexermos (embora a moça ao meu lado parecesse estar num concerto de rita guerra, tal foi a sua inércia). no fim, ainda consegui estender a mão e ficar com uma folha do alinhamento :).
o acontecimento da noite, no entanto, teve lugar na fila do bengaleiro, que estava enorme e só tinha uma rapariga a atender (por sinal, muito pouco lesta). pois que já estava eu encostado ao balcão, a ser atendido a qualquer momento, quando uma moça vem por trás e, completamente fora da fila, me toca o ombro e, com o papel esticado, me pede: «podes pedir para mim?». ora eu, que não poderia ser mais panhonha, nessa altura, naturalmente sob inspiração divina, respondi-lhe um retumbante não! ela perguntou porquê e eu, não contente com o não, ainda lhe disse: porque há uma fila e pessoas à espera! agora, vocês que me conhecem, digam lá se isto não foi a revelação do ano?! tenho dito.
no eléctrico para o cais, ainda houve tempo para uma sessão de peep-show mesmo nas barbas do senhor operador (um outro senhor que lá estava, a menos de um metro das artistas - anita e diana, em êxtase, atreveu-se a proferir: isto é uma vergonha! se não fosse tão foleiro, escreveria aqui um lol). bem, o resto da noite foi num barzinho mal decorado do bairro alto, com helena, la madrileña, e três rapazes amigos dela, simpáticos e conversadores, dois deles conhecia já de vista: actores do grupo de teatro do técnico. a diana explicou 67 vezes a sua aventura num expresso que vinha de bragança (o leitor já terá, com certeza, ouvido) e a noite acabou no jamaica, numa noite de reggae muito manhosa. mentira... a noite acabou de manhã, em casa da helena, a comer salada de massa fria (óptima), à espera que o metro abrisse.
em novembro, há nouvelle vague, no paradise garage. bora?