número 47
hoje, assisti a um concerto de música clássica. ao meu primeiro concerto de música clássica. um violino, um oboé, um cravo e um trasverso (uma espécie de violoncelo, com um som cavo e pétreo), em sinfonias renascentistas, ou rococós, de bach e um outro compositor, cujo nome se me passou. ali, naquela sala apinhada (para grande espanto meu, devo dizer), pus-me a pensar nos filmes que aqueles acordes evocariam em cada uma das pessoas que ali estava. eu via, nitidamente, o fru-fru de um vestido comprido, de dama antiga, a ressoar nos corredores de um palácio; uns sapatos de lona brancos, delicados, em entoações de danças ordenadas, num salão presidido por um enorme lustre barroco. perucas solenes. ou então... via um regato preguiçoso, nas notas soltas e pueris do oboé, uma criança viva, em risadas simples. a música enche-nos e leva-nos. perguntava-me se as outras pessoas ouviriam simplesmente a música, não se distrairiam por ensejos da memória ou arrufos de imaginação. se, simplesmente, não sentiriam as notas, martelando-lhes aos ouvidos uma sinfonia em tons. pensei perguntar ao nuno mas não o fiz. não quis arruinar-lhe o momento: talvez fosse, mesmo, interromper-lhe um sonho. cada nota seguia a outra de uma maneira tão lógica que parecia só existir na sequência da anterior. a música é irreprimível. insustentável. e muito leve. qual rato de hammelin, sigo-a, sigo-a, sigo-a, sigo-a...
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