a mão e o peão.

Friday, September 29, 2006

nas paredes de coimbra


o dentista

existem amores impossíveis. clichés aparte. mas como se ama alguém quando a consumação desse amor é interdita desde logo? quando se conhecem as restrições, quando se sabe da impossibilidade? não haverá nenhuma puta de célula neuronal no córtex pré-frontal que impeça isto? eu grito desesperadamente pela razão mas sinto que ela assiste, impotente (como se visse tudo por um vidro: assustada e resignada), ao controlo que eu não tenho sobre mim próprio. sobre os meus quereres e os meus apeteceres. sobre a raiva e o desejo. sobre o amor. qual é o propósito de gostarmos de alguém, anyway?
como no caminho para o dentista, pressinto que isto vai doer.

Tuesday, September 26, 2006

número 30

ninguém me quer oferecer o cd dos she wants revenge, não? «you can hurt me, do whatever you like...»

Friday, September 22, 2006

sabor meu que é teu também

estou aqui
prova-me
mastiga-me
obstinadamente como só tu
selecciona-me detém-me
saboreia-me deglute-me
devagar comprova o
meu paladar
sorri
não há restos de mim nos
teus dentes
sorri de novo
e com os lábios
sabendo a mim
beija o outro
extasia-o devora-o
desfruta-o delicia-o
e fá-lo amar o sabor dos teus lábios
sabor teu que é meu também

uma verdade premente

esta semana, a consciência ambiental atingiu um pico em mim. sempre me havia soado, mais do que uma preocupação dos naturalistas, a qual teria importância, sem dúvida, mas não a premência exagerada que lhe conferiam, como um assunto de actualidade extrema e um dos quais não só os governos and the powers to be, mas todas as pessoas, individual ou colectivamente, se deveriam interessar, manifestar e agir.
na quarta-feira, assisti a um colóquio, na faculdade de ciências, no âmbito da sensibilização para as alterações climáticas e da semana europeia da mobilidade. abriram a conferência os secretários de estado da juventude e do desporto, laurentino dias, e do ambiente, humberto rosa, se não estou em erro. entre outros, discursaram manuel romano, representante da comissão europeia em portugal, precisamente sobre a campanha de mobilidade que apela aos meios de transporte alternativos (alternativamente, não poluentes) e à partilha de automóveis, entre outras atitudes, e que promove, entre outros, o dia europeu sem carros; bruno tavares, um membro da direcção da federação portuguesa de cicloturismo e utilizadores de bicicletas, cujo discurso veio no mesmo sentido, o da necessidade de nos fazermos servir de meios alternativos ao carro, como a bicicleta, com projectos embrionários ou em curso, através dos quais se mostra ser possível utilizar a bicicleta sem prejudicarmos a nossa qualidade de vida (ou até, melhorando-a); e sérgio santos, investigador do instituto superior técnico, que apresentou o projecto carbon force, destinado a promover a educação ambiental nas escolas portuguesas que se espera estar estendido a todas elas nos próximos dois anos: convida as escolas a terem mais atenção às despesas que efectuam de gás, água, electricidade (porque são as direcções regionais de ensino que pagam as facturas e não as próprias escolas, facto que desconhecia), aos alunos, aos pais e encarregados de educação, a uma maior consciencialização dos problemas ambientais e dos comportamentos que poderemos adoptar para minimizá-los. foram veiculados factos que me surpreenderam: portugal é o terceiro país da europa (a seguir ao luxemburgo e à itália) com mais automóveis per capita (onde está a crise económica quando ela é precisa?); é, também, o terceiro país da europa (a seguir à lituânia e à letónia) a registar um maior aumento de automóveis desde 1990; em média, 40% de toda a energia dispendida por um televisor, durante o seu tempo de vida, é dispendida enquanto o aparelho está em stand-by; aplica-se o mesmo raciocínio a 80% de toda a energia dispendida por um aparelho vcr (vulgo, vídeo) ou dvd, durante o seu tempo de vida; cada ano, cada cidadão da união europeia é responsável pela emissão de mais de 11 toneladas de gases com efeito-estufa; se todos os europeus deixassem de deixar a sua televisão em stand-by, poupar-se-ia energia suficiente para abastecer um país do tamanho da bélgica!
depois de, hoje, ver «uma verdade inconveniente», em que al gore, o "antigo próximo presidente dos estados unidos da américa" nos dá uma lição sobre alterações climatéricas actuais e futuras, não se pode fugir à urgência de pensar nestes dados, reflectir na importância de certos actos que tomamos habitualmente, e na necessidade de mudá-los. não estamos a falar de uma poupança fútil, mas sim da saúde e sobrevivência do nosso planeta. pode parecer um discurso inflamado e alarmista demais, mas, o que é facto, apurado pelos especialistas da matéria, é que se não houver uma mudança radical nos comportamentos globais de toda a espécie humana (particularmente das sociedades civilizadas, que são as que mais poluem e destroem), indivíduos e corporações, alterações drásticas acontecerão no clima e na geoestabilidade do nosso planeta. as temperaturas aumentaram drasticamente nas últimas décadas: os dias mais quentes de que há memória registaram-se todos a partir de 1990; a concentração de dióxido de carbono na atmosfera terrestre, que, por sua vez, causa ou influencia o efeito-estufa e o aquecimento global, é, a cada medição, mais assustadora; as necessidades e exigências humanas ao planeta aumentam cada dia, com a população mundial a ultrapassar os 6 mil milhões de pessoas e a crer-se chegar aos 9 mil milhões em menos de 50 anos,... os dados são inúmeros, falam por si e apontam num único sentido: cuidemos deste planeta, mais que não seja, porque, em última instância, estaremos a cuidar de nós e dos que nos sucederão!
assim, o mote é: desligue, reduza, recicle, ande a pé. mudar as lâmpadas, de normais para fluorescentes (poupando até 68kg de carbono por ano), conduzir menos (0,5kg de carbono a menos por cada 1,5km que não conduzires), reciclar mais (até 1000kg anuais de carbono, só por se reciclar metade do lixo caseiro), verificar os pneus amiúde (melhorando o consumo do automóvel - cada 4 litros a menos representa 9kg de CO2 a menos na atmosfera), usar menos água quente, evitar produtos com muita embalagem, ajustar o termóstato, plantar árvores (não faz parte dos sonhos de criança? plantar uma árvore, escrever um livro, conceber um filho? pois, planta! escreve! concebe!) são mais acções que contribuem para o propósito comum. partilha a mensagem. sê activo. por ti e por todos.
para mais informações, consultar www.climatecrisis.net ou www.climatechange.eu.com

Wednesday, September 20, 2006

declaração de amor foleira a alguém que não existe

pensar en ti es como un oficio. lo cumplo todos los días, unos minutos que sean. alimento la esperanza de volver a verte, por la primera vez. planteemos esa posibilidad. qué pasaría, entonces? cómo me verías, quieto en una calle desierta, o sólo, con tres miles de personas a mi alrededor? desnudo o cubierto? triste?
me besarías?

pues que todo te espera, en mí. es como si mi vida no hubiera aún empezado. esperándote. como si fueses tú quien la comenzaría. quien le daría a luz.

no te conozco, pero ya te echo de menos hace mucho. es verdad. estoy conciente que, quizás, no te encontraré, que la perfección, que eres tú, no existe, que habrá siempre cosas malas, lágrimas, rechazos. pero sigo esperándote.

me besarías?

número 26

falaste três horas, sem parar. fizeste-me uma pergunta. somente, uma pergunta. eu, pouco mais disse que expressões aprovadoras do que contavas, uns hum hum, sumidos, uns sorrisos nas alturas certas, quando fui educado o suficiente para o conseguir. contaste estórias que tão longe estão do meu mundo, tão ao lado passam da maneira como vejo o mundo, como me relaciono com ele, da minha constelação de significados. é interessante apercebermo-nos de como essa constelação difere, de um para outro, de como algo tão importante para mim possa ser supérfluo, ou mesmo, indiferente, para ti, para ele. de como a violência, por exemplo, parecia fazer parte da tua vida e de como, só muito remotamente, fez parte da minha. de como atestavas o que dizias com uma veemência típica daqueles que ponderam apenas uma perspectiva para as situações em que se encontram - a sua própria. como raramente sorrias, ou me olhavas nos olhos. a meio do encontro, já havia percebido que aquele seria o primeiro e o último, tão diferente de ti me sentia. mas persisti, não quis ser desagradável, despachar-te de maneira óbvia. faço sempre tudo de maneira a que gostem de mim o mais possível: é capaz de ser o meu pior defeito. de qualquer maneira, enquanto falavas, momentos houve em que não te prestava grande atenção. olhava-te e tentava perceber o que em ti havia que me fizera perder o interesse. cientificamente, tanto quanto poderia. eu gosto de pessoas que falem muito. aliás, muitos dos meus melhores amigos são pessoas extrovertidas, quando não fala-baratos, manipuladores de conversas (esta é para ti...:p)! no entanto, todos eles sabem ouvir. regulam o seu discurso à receptividade do outro, aos sinais que lhes são dispensados, são sensíveis ao feedback. tu não és, ou não foste. pela maneira como defendeste tudo o que disseste que a ti se referisse, e por isto, apercebi-me que só podias ser bastante egocêntrico. e, como o meu ego não é nulo, ou sedento de se colar a outro para se afirmar, não há paciência para pessoas egocêntricas!! ainda disseste, quando apressei a hora de um encontro com uma amiga para me descartar, de fininho, que mal falara, que era muito calado. eu repliquei que tu eras muito «comunicativo»: tentei dar um tom irónico à palavra, mas acho que não fui muito bem-sucedido. disseste que tentaras preencher os silêncios, que foras sempre tu a quebrá-los. ora aí está a prova de dois mundos de significados diferentes. resolvias quebrar os silêncios, mas, nunca, com perguntas. se quisesses realmente que falasse, tê-lo-ias feito, pergunto-me. ou terias receio que não quisesse falar? que estivesse demasiado envergonhado? não fora ter-te dito que não fazia grande sentido continuarmos a falar, perguntar-te-ia, provavelmente, para afastar ainda mais uns metros os nossos mundos. ou, quem sabe...

mas, também, a quem é que isto interessa?

volver

yo adivino el parpadeo de las luces que a lo lejos,van marcando mi retorno. son las mismas que alumbraron, con sus pálidos reflejos, hondas horas de dolor. y aunque no quise el regreso, siempre se vuelve al primer amor. La quieta calle donde el eco dijo:"tuya es su vida, tuyo es su querer", bajo el burlón mirar de las estrellas que con indiferencia hoy me ven volver. volver, con la frente marchita, las nieves del tiempo platearon mi sien. sentir, que es un soplo la vida, que veinte años no es nada, que febril la mirada errante en las sombras te busca y te nombra. vivir,con el alma aferrada a un dulce recuerdo, que lloro otra vez. tengo miedo del encuentro con el pasado que vuelve a enfrentarse con mi vida. tengo miedo de las noches que, pobladas de recuerdos, encadenan mi soñar. pero el viajero que huye,tarde o temprano detiene su andar. y aunque el olvido que todo lo destruye, haya matado mi vieja ilusión, guarda escondida una esperanza humilde, que es toda la fortuna de mi corazón. volver...

Thursday, September 14, 2006

complainte de la butte


la lune, trop blême, pose un diadème sur tes cheveux roux. la lune, trop rousse, de gloire éclabousse ton jupon plein de trous. la lune, trop pâle, caresse l'opale de tes yeaux blasés. princesse de la rue, sois la bienvenue dans mon coeur brisé.

the stairways up to la butte can make the wretched sigh, while windmill wings of the moulin shelter you and i.

ma p'tite mendigote, je sens ta menotte qui cherche ma main. je sens ta poitrine et ta taille fine, j'oublie mon chagrin. je sens sur tes lèvres une odeur de fièvre, de gosse mal nourrie, et sous ta caresse, je sens une ivresse qui m'anéantit.

the stairways up to la butte can make the wretched sigh, while windmill wings of the moulin shelter you and i.

mais volià qu'elle trotte, la lune qui flotte, la princesse aussi.
la la la la la la.....
mes rêves épanouis...

les escaliers de la butte sont durs aux miséreux. les ailes du moulin protègent les amoureux.

Wednesday, September 13, 2006

abandono


número 22

faz hoje um ano que tudo começou. chegar a barcelona e estar a chover. apanhar um autocarro para a plaça de la catalunya, as malas incómodas, gigantes. a simpatia da lília, que viria, posteriormente, a ser o meu ursinho de pelúcia mais fofo. chegar a casa. à minha casa. a nô, que, viria, posteriormente, a ser família, paixão e irmã. o joão, os amigos, lá. eu, chegar. arrumar a roupa, conhecer o quarto. sentir-me perdido. o que estou eu a fazer aqui? nunca fui muito de desesperos. o que vier, vem e tudo passa. dormi sozinho, o amanhã vinha já aí.
à nô, à guigui, à ana, ao lourenço, ao jenner, ao fabini, ao giorgio, ao paolo, ao giovanni, à paulina, à sophie, ao antoine, ao outro antoine, à lucie, ao josep, ao roger, à muriel, à mercè, ao gorka, à mireia, à imna, à lília, à sónia, ao dionísio, ao luís, à eva-maria, ao korbi, à cecilia, ao roberto, à sílvia, à mané, ao thieme, à maria, à amélie, à catarina, à daia, à lilian, à júlia, ao luca, à giulia, à camille, ao miguel, ao gonçalo, ao paulo jorge, à elisa, à elsa, ao luis, à julia, ao adrien, a todos os que nos visitaram, obrigado e até sempre.

as fotos em viagem - parte III









as fotos em viagem - parte II










as fotos em viagem - parte I











diário de bordo - sardenha 2006

"10 de fevereiro de 2006 - começa a aventura!

o fabini pôs-se a cagar na casa-de-banho e a guigui e o ricardo chegaram atrasadérrimos, já eu, a nô e o johnny estávamos despachados, com as malas feitas e os dentes lavados há mais de três quartos d'hora! inadmissível! ah, e durante a noite choveu (ou não fosse o joão ter chegado!).

protagonistas de "uma aventura na sardenha":

- margarida, mais conhecida por guigui, ou (muito secretamente) por rita lee!
- nô, a bem-sei.
- ricardo, o indescritível.
- joão, aka, aquele-que-traz-a-chuva´
- tiago, o magnífico, o belo, o fantástico, o grande e inefável porco chauvinista!

(só faltam os cães, mas o ricardo vai tratar de substituí-los!)

A VEURE..."

12:16 Tiago

"tamos em "gerona", já andámos pa caralho (a margarida acabou de me chatear porque escrevi «tamos»). vi rochas, escadas de metal, mais pedras, bebi coca-cola, agora vamos para o avião e vamos dormir lá. o carro só amanhã é que - (o tiago acabou de dizer que se esqueceu do papel onde estavam os sítios para visitar, a leonor não gostou, deu-lhe um estalo. o joão agarrou a leonor, levou um estalo também. a margarida berrou. comecei a chorar muito. a leonor deu um estalo à margarida, o tiago levantou-se e começou a correr! o joão fugiu também, a margarida desmaiou, estou escondido debaixo da mesa, a ver se a leonor não me vê) - é que está pronto.

reminder: margarida liga à tua mãe!

amanhã é que vai ser. a ver se não chove.

p.s.: a margarida chateou-se e tirou «bué da minha roupa da mala». vou andar nu! nem na guerra andei assim!

17 ou 17:30 ou 18:00, não sei. é sexta, para aí dia 10."

Ricardo

"02h00 - aeroporto de alghero

que bom! viva a aventura! o maralhal todo a dormir e eu de pestana aberta e nariz entupido... já para não falar do frio... sim, porque não fizemos a coisa por menos e estamos todos a dormir no chão. but first things first: a viagem. apesar de termos sido dos últimos a fazer o check-in, conseguimos ter lugar todos juntos (porque o pessoal é estúpido e não se senta junto às saídas de emergência). o avião era giro. parecia um brinquedo e tal. o ricardo dormiu a viagem toda, embora diga que só dormiu meia hora... a margarida ressonou. o tiago chorou na descolagem... e na aterragem... e, agora que falo nisso, também durante o voo. foi um festival de baba e ranho. o joão bem tentou mas não conseguiu dormir... tinha uma morenaça escaldante encostada ao ombro e a excitação foi demasiado intensa. chegada a itália! yupi! desespero em busca de comida (o tiago até se atreveu a proferir o nome «mcdonald's»...). descobrimos que a única alternativa era pagar 6 euros por um 4 salti servido por italianos que não falam uma palavra de inglês... nem de espanhol...

(interrupção por parte do ricardo que acordou agora do seu sono profundo para perguntar o que estou a fazer... deves ter muito a ver com isso, deves...)

ok, voltando à comida. 4 salti e magnum de amêndoas. e estava feita a festa. começámos a mirar possíveis poisos para passar a noite e foi imediatamente evidente que tínhamos que acampar ao lado do anão da branca de neve... e do cavalo (o ricardo gostou particularmente deste último, não hesitou em saltar-lhe para cima - a carência sexual tem destas coisas...) acampamento cigano montado e começa a parvalheira. uma história alucinante sobre uma viagem profunda à alma dos 5 aventureiros (joãozinho, tiagolas, lonas, margarida e ricardolas) que se perdem numa ilha habitada por anões de machado e pêra, árvores com buracos, aeroportos com estábulos com livros de feitiçaria, homens-merda e toda uma série de personagens que nos fizeram reflectir sobre a existência humana e as suas ramificações antropológicas no início do século XIV. e não tínhamos fumado nada. antes de cada um apagar para seu lado, tempo ainda para uma agradável visita do segurança do aeroporto que nos trouxe chá e bolachinhas. as pessoas são simpáticas por aqui.

(o ricardo já ressona outra vez e o joão olha desesperado para o tecto e pensa onde é que estava com a cabeça quando aceitou embarcar nesta viagem de doidos...)

e pronto, já me consegui entreter durante 15 minutos, já só faltam 5 horas e 45 minutos."



"11.02.06

hoje vimos o sol da sardenha a brilhar pelas ruelas e casas toscas de alghero. a água é clarinha e vê-se o chão do mar. parámos na baía de porto conte, onde almoçámos, vimos peixinhos (e não peidinhos), cogumelos no fundo do mar e o joão molhou os pezinhos. pediram-nos 10 euros para descermos às grutas de neptuno. não entrámos. planos: passar por porto torres e irmos dormir à ilha di maddalena. até já.

13:46"

Tiago

"11.02.06

olá, tudo bem? por aqui, tenho algo científica e exaustivamente estudado para dizer: «porra! tá frio!». pois bem, os nossos planos saíram-nos furados e acabámos por não chegar à ilha maddalena. a nossa viagem passou por porto torres, em que observámos do mais virgem e belo que estas paisagens nos têm para oferecer: a zona industrial. aconselho. passámos depois por uma ponte romana e achámos que os romanos eram parvos e rimos muito. durante a viagem é importante referir a gritaria dantesca proferida pelo nosso amigo ricardo. eu comecei a chorar e a sangrar dos ouvidos e disse: «sangue já há!». rimos todos muito até ao momento em que a nô começou a delirar grotescamente e a dizer que via o rio de janeiro a ser atacado pelo capitão hook. chorámos todos muito... visitámos, de seguida, umas ruínas no mínimo ridículas que para nosso desalento estavam fechadas, mas logo de seguida fomos surpreendidos por um comboio a passar. reparámos sabiamente que as cancelas das passagens-de-nível são para protegerem as frágeis carruagens dos carros, das pessoas e das velhas de andarilho, babadoras compulsivas. o sol estava a pôr-se e tivemos de nos apressar para montarmos as tendas ainda de dia. chegámos a santa teresa e fomos até um café para irmos à casa-de-banho e pedirmos informações. o ricardo deve ter começado a cantar novamente porque ouvi alguém a girtar «sangue já há!». extremamente engraçado. por sorte, encontrámos um parque de campismo ecológico que, na verdade, é uma praia deserta com pescadores a pescar. montámos as tendas na areia durante os loucos 7 minutos de lusco-fusco. antes, já a guigui tinha estabelecido contacto com os locais que se mostraram não-hostis e até nos convidaram para nos juntarmos à volta da fogueirinha e cantar canções e dar arrotos muito alto. alinhámos todos e depois do jantar, fomos aquecer os nossos formosos rabos na fogueira. ofereceram-nos álcool etílico em copos e disseram para beber, que revitalizava o corpo e a mente. tou a brincar, era só aguardente. despedimo-nos deles e estamos todos agora reunidos na tenda do tiago, da guigui e do ricardo. enquanto, muito concetrado, escrevo estas palavras, eles estão a cantar um jogo estúpido de adivinhar músicas. alguém sem nada para fazer e idiota deve tê-lo inventado de certeza.
beijinhos no nariz,
21:41"

João

"13.02.06

véspera do dia de são valentim: a margarida começa a mostrar sinais da neurose pós-dia-dos-namorados, também conhecida e diagnosticada, pelo DSM-IV, por ficar-para-tia-fobia. acabou agora de ligar o carro, vamos em direcção de nuoro. over and out!"

Tiago

"13.02.06, 13:09

primeira noite, como já alguém - tou no carro, não dá para escrever, escrevo depois."

Ricardo

"14.02.06, 07:38

bom dia! atrasámo-nos a escrever no diário e agora a margarida, a boa-fantástica-maravilhosa, vai ter de actualizar dois dias e duas noites. ora «vejemos»...
no dia 12, domingo, acordámos depois de uma noite horrível (a pior, espero...) na praia. um frio descomunal, um desconforto gigantesco... uma noite tão má que até parecem duas! quando acordámos, os polícias interpelaram o joão; curiosos do c****** queriam saber tudo: o que estávamos a fazer, desde quando, até quando, com quem, porquê, se dançámos com os pescadores, se tínhamos descalçado uma meia a seguir a cada sapato ou as duas no fim... enfim, muito curiosos! mas o joão despachou-os bem (deve ser a sua experiência com a polícia de todas as vezes que esteve preso pelos seus crimes hediondos que lhe deu esse paleio, mas não «diguem» a ninguém!).
bom, arrumámos tudo e fomos a santa teresa - a terra mais próxima -, lavar os dentes a um café onde também tomámos qualquer coisa quente. daí, partimos em direcção à madalena - a ilha - onde andámos à procura da panorâmica; panorâmica esta que se revelou, no final da volta à ilha, ser a própria estrada que contorna a ilha. da madalena, recordamos: as gaivotas a comer a comida que o ricardo achava que tínhamos pago mas que era desnecessária; o mar transparente (como em todos os lados); os marinheiros de partida para a guerra (acho que foram render o turno do ricardo na coreia); a cidade-fantasma; a paisagem bonita; o barco que só começa a andar quando chegamos à outra margem...
quando demos por encerrado o «giro» pela ilha, formos para a terra dos ricos, porto cervo, onde o solidário berlusconi tem uma pequena arrecadação para guardar as vassouras que usa na sua lida diária. aquilo até é giro, mas nada demais (o ricardo disse que ficou um bocadinho desiludido, mas gostou dos barcos). eu, se me dessem a escolher, não faria ali a minha casa.
daqui, fomos para olbia, essa bela localidade com passagens de nível loucas, estacionamentos no meio da estrada, igrejas em ruas sem saída, castelos inexistentes e hotéis caros junto a bombas de gasolina. as pessoas, no entanto, eram simpáticas e disseram-nos que, em s. teodoro teríamos um poiso agradável. metemo-nos à estrada, mas antes de atingir o objectivo encontrámos o paraíso: um parque de campismo com pessoas simpáticas (um senhor só e abandonaaaaado), casas perfeitas (com aquecimento, água quente, mesa, talheres, tv, caminha...), poucos gastos, etc, tudo o que 5 malucos mais desejariam depois da noite na praia.
e aí pernoitámos... rrrronc..... (ricardo bruto a dormir) zzzzzz..... (margarida doce a dormitar)

(vou lavar os dentes, já volto!)"

Ginja

"14:02 (não sei que horas são)

O MOTE DA CREW DO SARDINHA: VAI BEBÉ, VAI, VAI!

ora cá estou eu de novo! bamo lá cambada, refazer o dia de ontem, o próprio, o mesmo, é ele, 13 de fevereiro de 2006, um dia que jamais se repetirá e que nós passámos na sardenha, essa bela ilha no meio do mar mediterrâneo! e começou, como não podia deixar de ser (e o leitor atento, que tem seguido com minuciosa perspicácia e cuidada atenção o nosso relato, saberá desde já) com os gemidos e sorrisos de prazer que a noite no bungalow proporcionou. a leonor acordou com um sorriso nos lábios, mas ainda ninguém conseguiu perceber porquê. o ricardo acordou estúpido e barulhento, o que, de resto, não constitui qualquer tipo de novidade relativamente ao dia anterior. depois de tomar outro banhito, fui com a guigas a um supermercado fazer as compras para esse dia, enquanto o richie ficou na casa-de-banho. pois chegámos e esse belo espécime masculina tinha acabado de sair do banho, um verdadeiro atrasado! depois de todos estarem fresquinhos e limpinhos (e o plural masculino de «todos» não inclui as fêmeas, que descuraram vergonhosamente a sua higiene pessoal), tomámos o pequeno-almoço na mesinha da sala e íamos dar um passeio até à praia (para ver a rocha que se ergue, imponente, real, do mar azul... que poético...), quando esbarrámos nas cancelas, que, intransigentes, impediram a passagem dos viajantes. frustradíssimos, regressámos ao sardinha e pusemo-nos a caminho. dirigimo-nos a san teodoro, onde eu, finalmente, telefonei ao meu pai. antes, fomos a uma praia (de novo, de água cristalinas), onde tirámos umas fotos engraçadas e o ricardo ganhou ao joão no concurso dos peixinhos sobre a rocha."

Tiago

"14.02.2006

dia dos namorados: margarida toda fodida (não literalmente, para tristeza dela). já dormimos no aeroporto (veio a bófia chatear, continuámos lá), dormimos na praia (veio a bófia chatear): foi uma noite do caralho! frio, frio!! e queríamos nós trazer a tenda dos dois segundos! nem pensar, tínhamos congelado!
- estão a combinar o caminho, há uma base de mísseis mas o tiago não quer ir, eu quero, ver mísseis a partir tudo, talvez ele assim já goste do «black hawk down» -
depois, dormimos num bungalow a preço de tenda, a leonor e a margarida negociaram se bem que a margarida iniciou a negociação: deve ter prometido qualquer coisa. ontem andámos no grand canyon, andámos o caralho, sofremos por 20 quilómetros ou MAIS! não fosse pela preserverança da leonor e eu nem a metade tinha chegado, foi a maior, ela. para cá, conseguimos à tangente ver o caminho: podíamos ter morrido.
agora vamos para outra terra, não sei qual: nunca sei, não fixo o nome das terras

- comentário da margaróida: «eu tou boa!» oh yeah, se tá!
- comentário da leonor à música que estava a dar (não me lembro, ver pergunta): «muda essa merda!»
- porque parece tudo nome de massa, atum é bom!

vi um carro igual ao do gonça, tou com comichão no rabo. dormimos todos mal, menos a margarida, claro. dormimos no carro, a bófia veio chatear, o joão safou-nos bem, só um de nós é que foi para a choldra, não digo quem, mas repito que tenho comichão e dores no rabo.
não consigo escrever, a margariga tá a acertar em todos os buracos de propósito.
estúpida, eh eh

09:40"

Ricardo

"15:02

são qualquer coisa por volta das 5 da manhã e estamos a dormir (ou melhor, a pernoitar - sempre gostei desta palavra!) no aeroporto de cagliari, depois de termos pregado a peta do avião para milão aos dois polícis simpáticos que nos deixaram ficar... enfim, one's gotta do what one's gotta do! e eu estou prontíssimo para continuar o relato do dia 13 de fevereiro, que ficou interrompido pela intervenção de aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado... só mais um aparte: contra todas as expectativas, a margarida sobreviveu a mais um dia dos namorados. palmas para ela.
ora bem, depois de passarmos por san teodoro, achámos por bem entrar na auto-estrada principal e dirigirmo-nos a nuoro, o que nos levaria mais depressa ao nosso destino do dia, o grand canyon europeu. estávamos todos muito excitados.
pelo caminho, o terreno acidentou-se cada vez mais, mais montanhas e mais altas. finalmente, chegámos a nuoro, que não surpreendeu - uma cidade enfiada nas montanhas. decidimos explorar alguma da cidade e, apesar das setas indicadoras terem feito um complô para que não conseguíssemos, fomos ao monte ortobene, que tem uma vista incrível para todas as outras elevações rochosas e depressões geográficas das redondezas. foi, também, onde eu prendi a porta do carro com o cinto de segurança e onde o ricardo ficou excitadíssimo com uma vaca (citando o próprio: «quero tocar-lhe, quero tocar-lhe»... enfim...). resolvemos comer lá em cima no monte e depois fomos mesmo para uma rocha destacada, de onde a visão era incrivelmente ampla. neste lugar, aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado chamou-me chinês de merda. há que fazer uma pausa para reflectir nisto (ou, como diz alguém que eu conheço, i have to take a moment).

depois deste breve momento de introspecção, não podemos senão chegar à inevitável conclusão de que aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado merece uma morte lente e dolorosa. prossigamos. lá descemos do monte ortobene e fomos em direcção a dorgali, pois era por aquelas bandas que as informações da nô indicavam estar o gola su gorroppu, o já tão referido gran cañón (é assim que os espanhóis chamam ao grand canyon... it speaks for itself!!) europeu!
chegámos a dorgali. a nô e o joão dormem lá atrás e o ricardo não se cala. a nô e o joão acordam e o ricardo não se cala. vamos indo pela cidade, rua abaixo, rua acima, perguntando a várias pessoas por su gorroppu, ponte sa barva e etc., sempre para chegarmos a muito sítios menos àquele que queremos. até que uma menina com cara de anjo e um barrete colorido nos indica o caminho (só um aparte: todas as pessoas a quem pedimos informações são tão simpáticas! - excepto aquelas putas em olbia que nem olharam para mim - e tão prestáveis! temos mesmo de referir isto). claro que até chegarmos onde pensávamos que era o caminho correcto, perguntámos a não sei quantas pessoas mais, mas o que interessa é que, depois de percorrermos um caminho de cabras, chegámos ao quilómetro onde o carro teve de parar e abandonámos o nosso sardinha. partimos à aventura!
depois de uma breve caminhada, encontrámos um riacho que passava, com água cristalina e uma ponte de barras de ferro e uma corda, a convidar o temerário. o joão foi o único que a atravessou: a nô foi saltar umas pedrinhas lá adiante e eu, a guigas e o ricardo descalçámo-nos e atravessámos o rio numa parte baixinha: a água era tão fria que, ao fim de 5 segundos, já não sentíamos os pés!
sãos e salvos do outro lado do rio flumineddu (assim esperávamos que fosse, era a indicação que tínhamos), começámos a caminhada mais longa da viagem. o johny, apoiado no seu cajado, era o pastor, o ricardo, a ovelha negra, a nô, a ovelha ranhosa, a guigui, a ovelha tresmalhada e eu sou o tiago. fomos subindo, descendo, passámos por uma fonte (em que uma nô alterada por uma confusão hormonal que uma gravidez e uma menstruação simultâneas geram, gritou «não me apetece!», referindo-se à água que dela brotava), trepámos buracos, deslizámos por árvores, sempre ao longo so rio que corria lá em baixo sobre as pedras alvas, o que lhe dava um efeito divino. até que surgiu a dúvida: não chegávamos a lado algum, as setas (pintadas numa rocha ou esculpidas na madeira) continuavam a indicar incansavelmente o tão desejado nome, estávamos cansados e ameaçava escurecer antes que conseguíssemos voltar para o carro - continuar ou regressar? a dúvida surgiu algumas vezes, mas a esperança e a obstinação da nô fizeram com que seguíssemos sempre em frente. até que chegámos à grande-árvore-queimada-por-um-raio e decidimos parar. o gola su gorroppu estava só atrás da volta do próximo monte mas estava já inalcançável. voltámos para trás, rezando para que não ficasse de noite enquanto não chegássemos ao sardinha. apressámos o passo várias vezes, o que provocou efeitos divertidíssimos no equilíbrio das pessoas, mais conhecidos como resvalos, ou mesmo como quase-malhanços! o ricardo, lá à frente, não se calava; o joão, de quando em vez, abanava a cabeça, como quem concorda, embora já não estivesse a ouvir nada do que ele dizia. nós, cá atrás, riamo-nos. estávamos quase a chegar ao rio, à passagem, quando os 5, 7 minutos dos lusco-fusco e o breu nos engoliu nos seus trapos de engano. o pânico instalou-se entre nós! a nô gritava, descontrolada e hiperfónica, a guigui chorava, o ricardo continuava a falar. enquanto passávamos o rio, ocorreu um piccolo precalço: o pitosga enfiajou um pé na água. felizmente que os amiguinhos foram prontamente em sua ajuda e o guiaram, são e salvo, à outra margem. todos sentados no carrom estávamos (ar) rebentados! decidimos aproveitar e arrepiar caminho, dirigindo-nos para sul, para tortolì, onde pernoitaríamos. pelo caminho, no meio da escuridão e das alturas, vimos aquilo por que tanto anseáramos toda a tarde: o vale do su gorropppu, que o ricardo, perspicaz e pertinentemente, comparou a uma vulva aberta (em termos mais vernáculos que o decoro que impede de reproduzir). essa visão não foi menos que mágica. chegados a tortolì, procurávamos insistentemente o aeroporto, que nos proporcionaria uma dormida mais confortável e sem gastos. depois de calcorrearmos estradas sinistras e vaguearmos pelo porto da cidade (com nome de desinfectante), encontrámo-lo. rapidamente, desistimos da ideia de lá dormir e fomos à procura de um pouco onde estacionar o sardinha e descansar. a noite foi gira. apertados e tal. o plano: de três em três horas, dois do que estavam a dormir atrás acordariam os da frente para trocarmos. o joão seria o único com direito a dois turnos na frente, uma vez que ia conduzir. até apareceram uns polícias a juntar-se à festa e tudo! o ricardo foi o que dormiu menos, coitadinho... quando acordámos, todos chorámos com pena dele. assim que recuperámos (o que ainda levou uns bons 4 segundos), fomos à procura de um café onde tomar a primeira refeição do dia.

quase às 8h de 16.02"

Tiago

"19:09, a 2 ou 3 horas de fugir de itália, 16.02

tá a dar pela milésima vez o «let's talk»."

Ricardo

"16 de fevereiro, 21h37 - sala de embarque do aeroporto de alghero

o avião está atrasado. cenário: as pessoas civilizadas, sentadas nas cadeiras e os 5 tugas sentados no chão, com as malas espalhadas à volta. depois de terem sacado do farnel na sala de check-in e de terem enchido as cadeiras de atum. o ricardo veio agora de cagar. diz que fez um senhor cagalhão. demasiada informação...
ora bem, então a situação é a seguinte: não me apetece ir embora... nada mesmo. como ainda só escrevi uma vez aqui, vou fazer uma espécie de balanço da semana.
gran cañón: 2 horas a caminhar para ver uma fenda na montanha. e depois ver o gand canyon à noite, da estrada. a inteligência não abunda para estes lados. não, mas foi giro. o rio era um espanto, com um fundo visível cá de cima da montanha. as frases mais ouvidas foram «é já ali depois daquela curva» ou «andamos até às 5h», ou «voltamos para trás?». ficou provado que não há cansaço que cale o ricardo. quando voltámos, só se ouvia a sua voz a tagarelar e o joão a acenar com a cabeça.
a noite no carro: mais um contacto com a polícia italiana. ou não tivéssemos nós estacionado em frente à esquadra (eu disse que a inteligência não abundava para estes lados...). turnos de 3 horas, poucas horas de sono. o habitual. mas foi giro ouvir o ricardo a ressonar a noite toda e dizer, de manhã, que não tinha dormido nada...
ah! antes disso, veio a noite inesperada no bungalow! íamos para san teodoro à procura de uma pousada e passámos por uma seta que dizia «camping»... resolvemos tentar. inicialmente, parecia vazio. mas depois a margarida descobriu um homem e iniciou as conversações. começou por dizer que não nos cobrava a tenda mas, mais tarde, acabou por nos fazer um belo preço por um bungalow, em troca de favores sexuais.
quando entrámos no bungalow, os nossos olhos brilharam: água quente! aquecimento! casa-de-banho limpinha! camas quentinhas! televisão! só conseguia dizer «perfecto! perfecto!»... foi uma noite muito boa! as habituais sandes de atum, desta vez acompanhadas por um concurso de talentos na tv com 50.000 provas de canto e de dança para os mesmo desgraçados, que cantarm e dançaram a noite toda.

(já estamos no avião e o ricardo não pára de berrar e agora abana o meu banco e o do joão. o tiago tira fotos estilo turista japonês)

mais momentos altos... hummm... as viagens de carro. os coldplay, a alanis (com a música que só agrada ao tiago, mas que todos acabamos por cantar), a madonna, o robbie williams (que punha logo a margarida acesíssima) e muitos outros, os gritos do ricardo, o joão a dizer que tem fome, o tiago a cantar, a margarida a desesperar porque o ricardo não lhe dava indicações, eu e o tiago a enfiarmos os dedos no ouvido do ricardo, as discussões constantes entre o ricardo e o tiago, etc....
o sítio que gostei mais? a ilha maddalena e a costa junto a villasimius... adorei o passeio junto à costa desde villasimius até cagliari... aquele mar incrível... o sol que se punha... a sensação de liberdade por estar num carro com 4 doidos mais ou menos sem destino... um momento que certamente não esquecerei... mas chega de lamechices.
em cagliari, parecíamos mortos-vivos. arrastávamo-nos pelas ruas em busca de um restaurante (sim, é verdade, deixámos as sandes de lado por uma noite) e perguntávamo-nos se íamos ou não voltar a dormir num aeroporto. quando tentámos sair da cidade em direcção ao dito conseguimos passar 3 vezes pela mesma avenida e fazer 3 vezes os mesmos comentários idiotas. enfim, há que manter a coerência.
chegámos ao aeroporto e decidimos que tanga utilizar com os seguranças que, seguramente, nos viriam visitar durante a noite. fomos à procura de um cantinho e montámos acampamento ao pé duma exposição de fotos. adormeci poucos minutos depois e fui acordada pelo joão que, mais uma vez, tinha sido interpelado pela polícia. conversa do costume, dar o BI, voltar a adormecer. sair do aeroporto às 6h30 (com tempo para nos cruzarmos com os polícias a quem tínhamos dito que íamos para milão nessa noite) e ir tomar o pequeno-almoço para a marina de cagliari, enquanto o sol nascia. mais um momento kodak. o dia foi, para mim, o mais cansativo, passei a manhã e a tarde a dormir no banco de trás do carro. acordava para comer e dizer «ah que giro» e voltava a encostar às boxes. estava mesmo podre...
ao fim da tarde chegámos a um parque de campismo ao pé da praia. montámos as tenda e fomos até à praia... e depois comprar papel higiénico. o ricardo ficou a curtir o frio e o vento na praia. e a rebolar na areia. e nas algas. e a brincar com a pequena sereia...
próxima odisseia: os banhos. depois de muita luta, conseguimos ter água quente, mas houve alguém que a esgotou de uma só vez!! é incrível a falta de respeito que há neste grupo... o pobre do joão foi quem sofreu as consequências já que a água gelou precisamente no momento em que ele estava todo ensaboado... foi, portanto, um grupo de 2 lavadinhos e 3 mal-cheirosos que foi para o carro jantar sandes de queijo. e depois, já era hora da caminha já que os meninos do amor de deus não se deitam depois das 23h. foi uma noite incrivelmente reparadora... não acordei nenhuma vez, não tive frio e a única coisa que me perturbou foram os gritos dos macaquinhos chamados ricardo e tiago, de manhã...
e pronto, dia de visitas e tal. o céu cinzento, pela primeira vez esta semana. as cenas do costume dentro do carro, o ricardo que não se calava, as músicas do costume, a desorientação do costume (porque é que nesta terra não se fazem placas de jeito?), o almoço em bosa, junto ao rio, o regresso a alghero, a nossa mania de nos armarmos em rebeldes e tentar entrar nas grutas de neptuno sem pagar (comemos com um portão fechado a meio do caminho), o anoitecer, a tristeza da partida, a chegada ao aeroporto... onde passámos a nossa primeira noite e onde escrevi pela primeira vez neste diário.
tenho a dizer que adorei a viagem, percorrer as estradas desta ilha praticamente deserta, sem destino definido, sempre a dizer disparates, a rir, a desfrutar da paisagem, a aproveitar as surpresas que surgem todos os dias, o autêntico «go with the flow»...
vou ter saudades.

(o joão diz que são 23h20 sem olhar para o relógio e como ele tem sempre a certeza absoluta e como tem sempre razão, vamos acreditar...)"



"18.02.06

a viagem já acabou."

Tiago

----------------------------
Foram estes os últimos relatos dos 5 jovens portugueses desaparecidos na sardenha em fevereiro de 2006. não sabemos do seu paradeiro, se terão sucumbido aos escassos banhos e à consequente precária higiene pessoal, às poucas horas de sono diárias ou, simplesmente, ao tédio infligido pelas constantes intervenções comunicativas daquele que responde pelo nome de Ricardo. desde já, pedimos desculpa, pelas esperadas reacções negativas que a leitura dos seus escritos terá causado ao leitor, mas o rigor informativo obrigou-nos a publicá-los.
um bem-haja à margarida, ao joão, ao tiago, à leonor e (vá, ok...) ao ricardo, onde quer que estejam. que esta viagem siga sempre connosco.

Tuesday, September 12, 2006

nella sardegna.



foi o combóio para girona e o voo para alghero (ou l'alguer, para quem insiste em afirmar que se fala catalão na cidade sarda, embora só tenhamos conhecido uma pessoa que de facto o falava - a senhora do gabinete de turismo!). foi o chegar, o montar o estaminé e o dormir no chão do aeroporto, ali, atrás de uma correnteza de bancos com apoios para os braços a separá-los, que tornavam impossível um leito mais macio. ali, ao lado das máquinas das crianças, que apitam estridentemente, cada vez que alguém engraçado as põe a funcionar para nos acordar. foi acordar cedo e alugar o carro. começava a viagem da minha vida. o joão, a nô, eu, a guigui, o ricardo. foram as auto-estradas sem fim, as janelas abertas, o vento a abanar os cabelos, a secar-nos as línguas. foi o mapa sempre aberto no tabliê, escolher as estradas, escolher os destinos, procurar os campos de campismo abertos na sardenha, em fevereiro. são poucos, muito poucos. o cheiro a mar. as lagoas, a água, as pedras no fundo da água, os ouriços-do-mar, via-se tudo. a noite na praia, os pescadores, a fogueira, a aguardente, o frio. a manhã. não dormir nada. de novo, o caminho. as praias, ninguém. as cidades, ninguém. falar italiano: scusa, carta igiènica, cazzo merda. os pés molhados, pão com queijo ao almoço, pão com atum ao jantar. casas enfiadas no meio das pedras, aldeias fantasmas, igrejas onde os aldeãos foram barricados e assassinados, só as galinhas e as cabras restaram, vagueando, nas vielas perdidas e bebendo água das fontes que brotam. por onde nós também bebemos. caminhar, o vale para além do caminho, foi andar e voltar antes que escurecesse, foi encharcar um pé no rio. os velhos a ressecar as rugas ao sol, as vacas na berma da estrada, as ovelhas e os cordeiros negros. rir muito.

número 16

desperto cedo e abro a janela.
a terra estende-se à minha frente, a perder de vista.
a sensação de possibilidade atinge-me brutalmente.
este dia vai ser meu.

o turista

não tenho raízes,
e o vento leva-me aonde queira.
não tenho laços, só a vontade me move.
não tenho dor, nem remorso.
o passado está morto, não olho para trás.
olho, contudo, para o que persiste:
as pessoas que riem nas ruas, e tropeçam e caem;
as casas que são passado, as casas que são futuro,
as casas, as igrejas, as varandas, as égides.
escrevo uma ode a uma mulher bonita, ou a um gato num degrau,
guardo-a no fundo de uma gaveta. para sempre.
hotéis que passam, luzes que se acendem e apagam,
homens que passam, olhares que se desviam, corpos que se descobrem.
eu aprendo.
tudo passa, eu vou fazendo turismo de vida em vida.

a la boquería

Sunday, September 03, 2006

eu quero fazer poemas felizes

eu quero fazer poemas felizes.
ponto.
eu quero lê-los depois
e sorrir complacente.

não quero mais reticências
trocadilhos
comparações.
não quero metáforas lânguidas
e pungentes como gotas frias.

quero ar
folhas verdes
eu quero água limpa
sem espuma
a brilhar ao sol.

eu quero ser um lagarto
simples.
estirado a secar
numa pedra simplesmente cinzenta.

não quero mais
pensar que não quero pensar no que estou a pensar.
não quero dormir na posição fetal.

quero correr.
isso: correr.
nem sentir nem pensar nem sonhar nem esperar.
ir. ir. ir.
sem ver o que passou
sem ver o que aí vem.
correr.
de olhos fechados.

e fazer poemas felizes.

número12

Abarco o universo sem fim
lambo labaredas de dor em píncaros
trinco o gelo que se derrete por entre as mãos e quero tudo
estou para além do fim, sem mesmo o ver
e sinto que tudo cabe na minha alma.
Cada número é uma vida e cada vida tem um fim
mas esse fim é como o fim do universo que abraço
por não o ter tem-no para mim.

Saturday, September 02, 2006

número 11

ouço o damien rice cantar. desenrola as canções viscerais e sinceras do seu "O". depois, vêm o jeff buckley, a berth orton, os kings of convenience. continuo estirado na cama, os músculos relaxados um por um, e, mesmo assim... quero dormir, mas de pensar nos momentos dolorosos, de aguda consciência, antes de adormecer, coíbo-me de o fazer. as vozes vão passando, soando no meu quarto remodelado, mais subtil, mais meu. uma única fotografia: na mesa-de-cabeceira, o meu busto recortado num horizonte de sol-posto e mar, uma praia esquecida na Estónia, que cheirava mal e ardia em mosquitos. nenhuma mais. nem um amigo, nem um familiar. eu, tão-só. as vozes dão-se lugar, da revoltada à gutural, da arranhada à sussurrada, todas leitosas, a escorrer pelas paredes, a inundarem-me. estou sozinho em casa. aliás, neste momento, e sem querer soar aborrecidamente melodramático, estou sozinho. e quero estar. quero derreter-me nesta sensação de que não valho nada. de que a minha vida não será, nunca, jamais, inapelavelmente, aquilo que eu queria, que eu quero, que fosse, que seja. cheers darlin', i got your wedding bells in my ear... pobre damien... what am i, darlin'? mas que vão me sinto, agora! tão imerecedor. and i die when you mention his name. quero sofrer em público e fechar-me em copas. quero a humilhação e a redenção. homesick: cuz i no longer know where home is. entrecortadas pelos meus pensamentos agudos, as palavras cantadas entrelaçam-se, insinuam-se, agastam-me. não paro o media player, no entanto. quero fazer-me descer tão fundo...: quanto mais fundo desço, mais depressa subo de novo. e aí, ouço uns ojos de brujo, em espanholada apaixonante, ou uns nouvelle vague, em boémia electrizante: you're out of luck, i'm rolling down the stairs, too drunk to fuck... os meus estados de espírito são sinceros, mas voláteis, como as faixas de um cd. não sei se serei a) lábil, se b) fútil, se, c) irremediavelmente inconstante ou, e inclino-me para a última opção, simplesmente, d) saudável.

aula

para ela, que é perfeita sem saber: à sua inteligência, à sua dedicação, à sua disponibilidade, à sua transparência (que tão frequentemente se confunde com uma opacidade de pedra), à sua beleza. com a certeza de que uma parte de mim é ela.

sentados na cama
falamos de matemática
e das contas da vida
do que somamos ao que perdemos
e ao que juntos dividimos
falamos das químicas que nos animam
das pulsões
dos ímpetos
das paixões
discursamos a anatomia dos nossos órgãos
a histologia dos tecidos
a embriologia, a génese dos vícios
entabulamos teorias económicas
sobre os lucros de um acto furtivo
de uma sinceridade rasgada
sobre as perdas de engolirmos as nossas vontades
estabelecemos fórmulas sobre o peso dos corpos
a física dos sexos e dos suportes
filosofamos
discutimos o absurdo e o existencial
o supérfluo e o absoluto
o certo e o errado
como filósofos bêbedos que escrevem e fodem
como quem corre
analisamos a epistemologia dos nossos saberes mútuos
a semiótica dos silêncios
a sociologia das solidões
a etimologia dos nomes, das vergonhas, das desilusões
falamos enfim
da psicologia
das pontes entre dois mundos tão diferentes
e tão intrinsecamente apoiados um no outro
que são as nossas prodigiosas psiques.

26.07.04 23:37
para ela

Friday, September 01, 2006

o belo

uma poça de água salina numa praia nublada
alguém que chora de saudade num jardim
um livro que cheira a novo
raízes que saltam do chão e onde as crianças se sentam
a espuma a desfazer-se e a morrer nos meus pés
um malmequer ou uma flor roxa
uma toalha de piquenique no mato
uma lua cheia de prata e brio
pássaros que voam aos bandos
um avental de uma avó que faz compotas
beijos de um menino
o teu corpo compacto e tépido
o belo que me inunda e apaixona.