a mão e o peão.

Monday, May 28, 2007

soundtrack

in a van.
you could try my words on, for a change. like a pair of shoes.
they'd fit perfectly.
o pó da estrada, em reboliço.
o sol, ao fundo, vermelho. nós, em direcção a ele.
shall we melt?
o que eu não consigo dizer, di-lo o vento que aproveita a janela aberta para sibilar ao teu ouvido
a magia das coisas, quão compacta é a minha mão na tua,
e os meus lábios no teu pescoço,
os meus olhos na tua alma,
presentes.
the silver sea, longing for the scent of our bodies.
you and i, no clothes, no watches, no one.
are the feelings there?
sick of writing about love.
let's just feel the road. and try to hit it.

outrem#2

já marquei a viagem.
o piano começa, agora, a tocar. parecem gotas de chuva (daquela grossa e que quase parece morna, quando o dia se esvai e a esperança com ele), as notas que saltam. resvalam e deslizam nos ecos do meu pensamento. não é fácil manter a concentração, fazer as malas e os telefonemas, escolher as calças que levo, reunir os papéis importantes. quão vão e prosaico me parece tudo isto.
volta atrás. diz que, afinal, é, sim, é a mim que queres e que o meu riso te faz acordar, mesmo quando já estás acordado, e te faz sorrir como se estivesses a despertar numa cama de lençóis brancos, num campo de trigo, dourado, espraiado ao sol, borboletas esvoaçam e os grilos, animados, cantam as suas asas de papel.
abro a mala. vazia. e, em vez das calças, das camisolas, das meias, quero meter-me a mim lá dentro. correr o fecho e ficar assim, aninhada, encolhida, em mim. talvez, assim, este vazio que sinto se preencha, se me espremer muito pode ser que encontre com que fechá-lo, carnes que o cerrem, forças que o invadam. ao vazio. à mala.
no vidro da janela, a chuva toca. na minha cabeça, a latejar, o piano toca. dentro em breve, vou correr. não vou fugir. vou perder-me - mesmo antes de me encontrar. a mala, pesada, cheia. o meu coração, pesado, ...

Sunday, May 27, 2007

enquanto ouço «this place is haunted» dos devotchka (ler lentamente)

there are some laughters you can never forget.
there, go. a little further. one step at a time. don't stumble. push yourself. yeah, go and touch it!
there you go!
there are some echoes that remain.
and the sand is still itchy and the yellow photographs are so touching. the music, far far behind.
random smiles and that laughter... a blond little boy, running astray.
shoot it, shoot it! mum, can i have a lollipop?
i can still smell the waves, the whirling foam at my feet, the humming green mirror, the mermaids in my dreams.
how many years?
roll your toes in my legs, once again. blow my woes away. with that laughter.
the sand shining... gold in the air of summer. gold in your hair, little boy,
little me.

Saturday, May 26, 2007

a rua mais florida.

quero deixar uma marca neste cantinho do que foi esta noite.
um grande sorriso, pode ser? um grande, grande sorriso... e um espreguiçar mimoso, a chuva a cair, suave e morna. «coisa boa, boa. coisa desperta.»

prenúncio

poderia ser como um êmbolo. e, numa força de vácuo, subtrair-me às alegrias da vida, de quando em vez, e entregar-me ao lodo, para vir depois, numa sonora respiração à tona, de novo. de facto, poderia. e poderei. mas há dias em que quero, simplesmente, esconder-me debaixo de uma mesa, os olhos fechados, as mãos nos ouvidos, muito encolhido, a cantarolar uma música que me agrade e a chorar a minha fraqueza. e, depois, há outros em que me quero esticar, atirar, agradecer e sorrir as pessoas maravilhosas que fazem parte da minha vida e as pontes, não menos maravilhosas, que construí. não me permito sofrer. nem regozijar-me. não sou suficientemente bom para nenhum deles, o sofrimento e o regozijo. e, se não há esta folga, tão-pouco há êmbolo. escrevo porque me escondo. e porque, de certa maneira, me quero mostrar. mas a força é tão pouca. e eu sou tão esparso. não quero ter esperança e não consigo não tê-la. agradeço que ignorem este post. ou, pelo menos, que não mo comentem. é uma força de expressão.

Monday, May 21, 2007

música#9

patrick wolf - the magic position

Sunday, May 20, 2007

última chamada

preparo as malas. 10 pares de cuecas. 10 pares de meias. 3 pares de calças. o carregador do telemóvel. como é que se escreve preservativo? o mapa de liverpool. outro mapa. bolachas para o voo. não te esqueces de nada?
duas e um quarto. zero horas em ponto. 17:10. meio-dia. autocarro para o porto. aterro em amsterdão. combóio na linha 7. eléctrico 28. paris. acordo cedo. quando lisboa ainda dorme. espreguiço-me, mimosa. sorrio. são 6 da manhã. apalpo-me, para ter a certeza que o meu corpo ainda me pertence, que a míriade de sensações que me espera o marcará bem. levanto-me. dispo-me. sensualmente. acaricio-me até ao orgasmo e rio-me comigo própria. um banho. um pequeno-almoço. um autocarro para a portela. uma mala. um avião. paris. ele no aeroporto. sinto-me inundada em alegria. alagada. submersa. liquefeita. o meu sorriso brota como se de uma nascente se tratasse. rapidamente seca. a namorada com ele. a namorada no meu avião. cabra de merda.
uma cascata. vês as árvores ao fundo? vês os fósseis? este sítio é fantástico, não é? respira-se tão bem aqui! a água está boa? este sítio é fantástico! quantos alpinistas estiveram aqui hoje?

uma praia redonda, fria e seca. o marulhar das ondas, embebendo-se em areia. aqui, nesta praia fria, aqui num cotovelo do mundo, em que o vento passa sem notar, e os nossos ossos sentem-se no contacto incómodo com o chão da tenda, nesta praia em que não posso chorar porque tenho frio e as lágrimas são frias e o meu coração está frio; nesta praia, acabaste comigo.
de um lado ouço os combóios, do outro lado os aviões. combóio combóio avião avião, aqui passam dois combóios, aqui passam dois aviões, combóio avião combóio combóio avião avião avião combóio avião avião. é como uma orquestra.
excuse me, do you speak english? yes. great! i want to go here. can you tell me which street should i take to get to the bus? yes. this street or this street? yes. sorry? nem értem. which street should i take? ön akar-hoz megy vonattal? i don't understand. igen. should i take this street? yes. or this one? yes. yes, what???
e as memórias...
"última chamada" - dias 24, 25 e 26 de maio, no bar funicular, rua da bica de duarte belo (rua do eléctrico da bica), às 22h30. pelo grupo de teatro ultimacto, da faculdade de psicologia e de ciências da educação da universidade de lisboa.


pequeno autocarro

retomo a minha actividade bloguística com uma crítica (ou, vá lá, um comentário que sempre parece menos pretensioso) ao filme de john cameron mitchell, shortbus.
poder-se-á começar por dizer que foi classificado para m/18, o que se justifica, tendo em conta a quantidade de órgãos genitais masculinos e femininos, de fluidos e interacções sexuais a que se assiste nas menos de duas horas que dura. fui prevenido da suposta superficialidade do filme, de como o sexo era exposto e usado de forma gratuita para fazer passar mensagens cliché e lugares-comuns.
não foi o que vi. de facto, shortbus é um filme que, não sendo necessariamento sobre sexo (e isto é discutível), o utiliza e fala dele e, portanto, a inclusão de cenas explícitas pareceu-me aceitável e natural - em qualquer filme, mostra-se aquilo de que se fala. porque haverá o sexo de ser uma excepção? de ser considerado de mau gosto ou obsceno ou dispensável? adiante.
para além dessa questiúncula, resta o imenso potencial humano do filme. este potencial está nas imagens que se vê gravar, nas canções que se cantam, nas frustrações que se adivinham, nas lágrimas que se engolem e, também, nos risos e nas quecas que o não são menos.
tudo se passa numa nova york animada, colorida e multi-facetada.
e num bar que alberga os corpos e os espíritos mais liberais desta cidade, as personagens mais estranhas e, finalmente, tão semelhantes. em que os sexos se confundem e as diferenças se diluem. sim, é um ambiente perverso. sim, é um ambiente promíscuo. mas no final, o que me fica é que é, principalmente, um ambiente humano.