fotografia
a tua foto nas paredes. a tua foto nos outdoors, um sorriso do tamanho de um prédio. a tua foto, sorrindo, lateralmente a passar por mim, num autocarro. a tua foto a dobrar a esquina, a recolher pessoas que se protegem da chuva com chapéus e gabardinas. numa paragem. a tua foto a deslizar para cima e para baixo. para cima e para baixo numa estação de metro, cheia de pessoas com pressa. a tua foto quando dobro uma esquina, logo depois de chegar à conclusão que já não sabia quem tu eras. a tua foto que me agride, explodindo em néons, explodindo em pixels, explodindo-me. a tua foto que me deixa de rastos. aninhado numa valeta, enquanto todos os autocarros que passeiam alegremente a tua foto me passam ao lado, encharcando-me de água, de lama e de vergonha. a tua foto que me persegue. nas casas de banho públicas, nos quadros da escola, quando as pessoas viram a cara, a tua foto que me surpreende, me apanha desprevenido, com as defesas em baixo, vulnerável. hoje pensei: e se eu não aguentasse isto? vejo a tua foto, na camisola de alguém que passa na rua, alheio. e se eu me passasse de vez? na minha casa, caiu uma parede, as outras mal se sustentam. no espaço que ocupava, está uma foto tua, a mais cruel de todas e tu que nada sabes.
2 Comments:
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Até dá vontade de estar nessa foto! Ou então, dá vontade de fugir, pois o produto seriado acaba!
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