música
sigur rós - hoppípolla
sigur rós - svefn-g-englar
ainda no outro dia, via eu a tua foto em anúncios pegados às caudas dos aviões, em letras garrafais, que gritavam só para mim o teu não. hoje, assisti a recordações que desfilavam, de pessoa em pessoa, em cada uma, um sorriso, em cada uma, um brilhozinho nos olhos, inconfundível. curioso, e inestimavelmente precioso, o acto de deixar gravados num papel, momentos passados. a ordem das coisas, tal qual era naquele momento, é irrepetível, aquela fracção de segundo é inimitável, para sempre intangível. e, no entanto, que recordação mais fiel que um verdadeiro momento, um verdadeiro instante da conversa na ciutadella, deitados na relva, pessoas que tocam djambés, ao longe, gritos e gargalhadas de fim de verão, a cidade imensa, plasmada no céu, azul, por cima de nós? que recordação mais fiel do meu estado de espírito, da sensação de possibilidade que me enchia o estômago, que me enchia os poros da pele, que me enchia os olhos? o infinito cabe, facilmente, no finito, assim o queiramos. aqueles meses por vir, eram, para mim, o palco de todas as hipóteses, a mesa de casino onde tudo seria jogado, o estrado onde tudo seria vivido. como um leque, os caminhos abriam-se à minha frente, todos possíveis e todos maravilhosos. naquela fotografia, um instante e uma esperança tão grandes, o sol a reverberar nos cabelos da margarida.can you save me from the ranks of the freaks who suspect they could never love anyone?
caíste tão depressa:
deparo-me com o meu caminho, numa tarde qualquer.
my sorrow and my bliss come in
He venido al desierto pa'reirme de tu amor
sou viciado em tudo o que me ponha triste. talvez seja por isso que é difícil esquecer-me de ti, da tristeza associada ao teu nome.
pelas janelas, os pós de vidas atiram-se do alto, afundam-se no ar fervilhante e irrequieto da noite em lisboa. revelam-se em raios de luz furtivos; revelam estilos, padrões ou direcções de hábitos, e interesses. do largo de são carlos, bastou-me erguer a vista e encontrei-a insinuante, a prometer-me. curioso, espreitei doutro ângulo. afigurou-se-me uma vida escorreita, entre uns copos tranquilos, de terça-feira, no bairro alto, uns passeios crepusculares pela almeida garrett, ou manhãs que despertam bem cedo e trazem o castelo e alfama bem presos ao horizonte; corpos que balançam na bica. de manhã e ao anoitecer, é quando mais amo esta cidade. quando o cheiro a mar pende das asas das gaivotas, e se degusta o sabor a mudança, a reboliço, a lisboa em transição. desço a do alecrim e desaguo no cais, escondo os olhos no rio, perco o corpo pelos carris. nunca chego aonde quero, mas gosto sempre de onde estou.
tiago e marlene (aka os desgraçados) - planos para a noite: lady in the water e incógnito (noite de djs ingleses). espero voltar a escrever em português, amanhã.
crença irracional do dia (duma vida?): toda a gente tem de gostar de mim e eu tenho de agradar a toda a gente.
terça-feira, paradise garage, alcântara: peaches. depois de, num solavanco, me ter sentado ao colo duma senhora no eléctrico, fomos (eu e a anita) à procura de um estabelecimento que servisse uma comidinha. o ambiente das ruas e a luminosidade decrescente não convidavam a grandes incursões e ficámo-nos mesmo pela marisqueira que ficava mesmo ao pé do paradise. um prego e uma imperial. a marisqueira começava a encher-se de pessoal de aspecto alternativo. não nos parecendo que aquela fosse a clientela habitual da marisqueira (havia um empregado que chamava todas as atenções: de baixa estatura, bigodinho hirsuto e cabelo dividido num risco ao meio atabalhoado, tipo bigode-de-morsa... simplesmente, imperdível!), chegámos à conclusão que toda aquela gente havia vindo para o concerto (sim, somos mesmo perspicazes. mas mesmo, mesmo!). faltava uma meia hora e fomos ter com a diana à entrada - umas piadas, as mesmas, que mantêm a sua capacidade cómica, pelo simples facto de estarmos os três. entrámos. todas as pessoas que já tinham entrado estavam encostadas aos balcões laterais. obviamente, fomos logo encostar-nos à grade e, assim, ganhámos um poiso priviligiado, para ver de perto as ordinarices da pêssegos. entretanto, começava a amontoar-se gente por detrás de nós. um rapazinho, decerto na sua inocência, achou por bem roçar incessantemente o seu órgão nos glúteos da anita, enquanto me dava cotoveladas (percebem a técnica? seduz-se a fêmea e, ao mesmo tempo, afasta-se o macho rival). fez a primeira parte do concerto, uma senhora que, à primeira vista, nos pareceu a alexandra solnado (sim, aquela que fala com jesus cristo), mas depois abriu a boca e percebemos que o chalamento que a afligia era de outra índole (não deixando, por isso, de ser menos grave). adiante. a senhora até tinha uma voz bonita, uns agudos muito afinados e melodiosos, e umas canções que, depois de se estranharem, entranhavam-se. mudando de chapéu amiúde (não tão amiúde quanto a britney spears muda de roupa, no entanto), cada um mais estranho e menos funcional que o outro, fez parte do concerto em cima duma cadeira branca (toda ela vestida de branco), alisava vezes sem conta a franja contra a testa e disse que lisboa era a sua cidade preferida. o pessoal já estava todo em pulgas pela peaches. acabou o concerto da senhora (cujo nome, vergonhosamente, não me lembro - vaias...) e passaram umas músicas animadas, no intento de aquecer as gentes (o shake your groove thing «partiu o plhit u»!). eis senão quando, essa grande chaladona aparece em cima do balcão do lado esquerdo como quem olha para o palco e direito como quem olha dele (e isto é bastante importante), cantando o «tent», com o chapéu com que aparece na capa do seu novo cd, «impeach my bush». daí, partiu para o palco e foi all hill-up from there! a sua banda: um rapaz de aspecto meio efeminado, meio másculo (parecia o del marquis dos scissor sisters), na guitarra ou no baixo (nunca sei), uma moça que mais parecia um gandulo de banda desenhada, na guitarra ou no baixo (consoante o instrumento do anterior) e uma gaja tipo blondie (platinada, de pálpebras azul-turquesa), na bateria. começaram por canções mais rock, em que as guitarras eléctricas faziam estremecer o estaminé e passaram depois para uma onda mais electro, em que as guitarras foram substituídas pelos órgãos. pelo meio, passaram canções com títulos tão sugestivos como «hit it», «lovertits» - grande momento, «shake yer dix» - em que o pedido foi: i wanne see you all shaking those dicks!, «slippery dix», «i u she» ou «stick it to the pimp». entretanto, a anita quase se envolvia numa disputa pacífica (ou nem tanto) por um concerto calmo, sem encontrões e sem ter uma gaja estúpida de cabelo vermelho (que, sem qualquer relação com a contenda, lhe ficava horrivelmente mal) a bater palmas ao seu ouvido. felizmente, a peaches atraía bem mais as atenções e a querela ficou-se por uns olhares intimidantes (que resultaram). a peaches ia-se despindo, subiu para a grade (uma miúda, que devia ser fãzíssima, entrou em histerismo e tocou-lhe em todo o lado que agarrou), trouxe um enorme caralho de plástico para o palco e ia dizendo uns obrigados. depois de «fuck the pain away» (suckin' on my titties like you wanted me, callin' me all the time like blondie, check out my chrissy behind: it's fine all of the time like sex on the beaches. what else is in the teaches of peaches? uhh! what?...) - brutalíssima, veio aquela altura em que temos de gritar muito alto para eles voltarem ao palco, quando já sabemos, de antemão, que eles voltarão anyway, porque faz parte do alinhamento. entrámos no auge quando soou o «operate», já no encore - ela, de botas prateadas, até à coxa, com uns saltos de vinte centímetros, a abrir as pernas tipo marlene dietrich no «anjo azul». com uma energia vibrante e batidas óptimas, foi quase impossível não nos mexermos (embora a moça ao meu lado parecesse estar num concerto de rita guerra, tal foi a sua inércia). no fim, ainda consegui estender a mão e ficar com uma folha do alinhamento :).