número 11
ouço o damien rice cantar. desenrola as canções viscerais e sinceras do seu "O". depois, vêm o jeff buckley, a berth orton, os kings of convenience. continuo estirado na cama, os músculos relaxados um por um, e, mesmo assim... quero dormir, mas de pensar nos momentos dolorosos, de aguda consciência, antes de adormecer, coíbo-me de o fazer. as vozes vão passando, soando no meu quarto remodelado, mais subtil, mais meu. uma única fotografia: na mesa-de-cabeceira, o meu busto recortado num horizonte de sol-posto e mar, uma praia esquecida na Estónia, que cheirava mal e ardia em mosquitos. nenhuma mais. nem um amigo, nem um familiar. eu, tão-só. as vozes dão-se lugar, da revoltada à gutural, da arranhada à sussurrada, todas leitosas, a escorrer pelas paredes, a inundarem-me. estou sozinho em casa. aliás, neste momento, e sem querer soar aborrecidamente melodramático, estou sozinho. e quero estar. quero derreter-me nesta sensação de que não valho nada. de que a minha vida não será, nunca, jamais, inapelavelmente, aquilo que eu queria, que eu quero, que fosse, que seja. cheers darlin', i got your wedding bells in my ear... pobre damien... what am i, darlin'? mas que vão me sinto, agora! tão imerecedor. and i die when you mention his name. quero sofrer em público e fechar-me em copas. quero a humilhação e a redenção. homesick: cuz i no longer know where home is. entrecortadas pelos meus pensamentos agudos, as palavras cantadas entrelaçam-se, insinuam-se, agastam-me. não paro o media player, no entanto. quero fazer-me descer tão fundo...: quanto mais fundo desço, mais depressa subo de novo. e aí, ouço uns ojos de brujo, em espanholada apaixonante, ou uns nouvelle vague, em boémia electrizante: you're out of luck, i'm rolling down the stairs, too drunk to fuck... os meus estados de espírito são sinceros, mas voláteis, como as faixas de um cd. não sei se serei a) lábil, se b) fútil, se, c) irremediavelmente inconstante ou, e inclino-me para a última opção, simplesmente, d) saudável.
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