a mão e o peão.

Wednesday, September 13, 2006

diário de bordo - sardenha 2006

"10 de fevereiro de 2006 - começa a aventura!

o fabini pôs-se a cagar na casa-de-banho e a guigui e o ricardo chegaram atrasadérrimos, já eu, a nô e o johnny estávamos despachados, com as malas feitas e os dentes lavados há mais de três quartos d'hora! inadmissível! ah, e durante a noite choveu (ou não fosse o joão ter chegado!).

protagonistas de "uma aventura na sardenha":

- margarida, mais conhecida por guigui, ou (muito secretamente) por rita lee!
- nô, a bem-sei.
- ricardo, o indescritível.
- joão, aka, aquele-que-traz-a-chuva´
- tiago, o magnífico, o belo, o fantástico, o grande e inefável porco chauvinista!

(só faltam os cães, mas o ricardo vai tratar de substituí-los!)

A VEURE..."

12:16 Tiago

"tamos em "gerona", já andámos pa caralho (a margarida acabou de me chatear porque escrevi «tamos»). vi rochas, escadas de metal, mais pedras, bebi coca-cola, agora vamos para o avião e vamos dormir lá. o carro só amanhã é que - (o tiago acabou de dizer que se esqueceu do papel onde estavam os sítios para visitar, a leonor não gostou, deu-lhe um estalo. o joão agarrou a leonor, levou um estalo também. a margarida berrou. comecei a chorar muito. a leonor deu um estalo à margarida, o tiago levantou-se e começou a correr! o joão fugiu também, a margarida desmaiou, estou escondido debaixo da mesa, a ver se a leonor não me vê) - é que está pronto.

reminder: margarida liga à tua mãe!

amanhã é que vai ser. a ver se não chove.

p.s.: a margarida chateou-se e tirou «bué da minha roupa da mala». vou andar nu! nem na guerra andei assim!

17 ou 17:30 ou 18:00, não sei. é sexta, para aí dia 10."

Ricardo

"02h00 - aeroporto de alghero

que bom! viva a aventura! o maralhal todo a dormir e eu de pestana aberta e nariz entupido... já para não falar do frio... sim, porque não fizemos a coisa por menos e estamos todos a dormir no chão. but first things first: a viagem. apesar de termos sido dos últimos a fazer o check-in, conseguimos ter lugar todos juntos (porque o pessoal é estúpido e não se senta junto às saídas de emergência). o avião era giro. parecia um brinquedo e tal. o ricardo dormiu a viagem toda, embora diga que só dormiu meia hora... a margarida ressonou. o tiago chorou na descolagem... e na aterragem... e, agora que falo nisso, também durante o voo. foi um festival de baba e ranho. o joão bem tentou mas não conseguiu dormir... tinha uma morenaça escaldante encostada ao ombro e a excitação foi demasiado intensa. chegada a itália! yupi! desespero em busca de comida (o tiago até se atreveu a proferir o nome «mcdonald's»...). descobrimos que a única alternativa era pagar 6 euros por um 4 salti servido por italianos que não falam uma palavra de inglês... nem de espanhol...

(interrupção por parte do ricardo que acordou agora do seu sono profundo para perguntar o que estou a fazer... deves ter muito a ver com isso, deves...)

ok, voltando à comida. 4 salti e magnum de amêndoas. e estava feita a festa. começámos a mirar possíveis poisos para passar a noite e foi imediatamente evidente que tínhamos que acampar ao lado do anão da branca de neve... e do cavalo (o ricardo gostou particularmente deste último, não hesitou em saltar-lhe para cima - a carência sexual tem destas coisas...) acampamento cigano montado e começa a parvalheira. uma história alucinante sobre uma viagem profunda à alma dos 5 aventureiros (joãozinho, tiagolas, lonas, margarida e ricardolas) que se perdem numa ilha habitada por anões de machado e pêra, árvores com buracos, aeroportos com estábulos com livros de feitiçaria, homens-merda e toda uma série de personagens que nos fizeram reflectir sobre a existência humana e as suas ramificações antropológicas no início do século XIV. e não tínhamos fumado nada. antes de cada um apagar para seu lado, tempo ainda para uma agradável visita do segurança do aeroporto que nos trouxe chá e bolachinhas. as pessoas são simpáticas por aqui.

(o ricardo já ressona outra vez e o joão olha desesperado para o tecto e pensa onde é que estava com a cabeça quando aceitou embarcar nesta viagem de doidos...)

e pronto, já me consegui entreter durante 15 minutos, já só faltam 5 horas e 45 minutos."



"11.02.06

hoje vimos o sol da sardenha a brilhar pelas ruelas e casas toscas de alghero. a água é clarinha e vê-se o chão do mar. parámos na baía de porto conte, onde almoçámos, vimos peixinhos (e não peidinhos), cogumelos no fundo do mar e o joão molhou os pezinhos. pediram-nos 10 euros para descermos às grutas de neptuno. não entrámos. planos: passar por porto torres e irmos dormir à ilha di maddalena. até já.

13:46"

Tiago

"11.02.06

olá, tudo bem? por aqui, tenho algo científica e exaustivamente estudado para dizer: «porra! tá frio!». pois bem, os nossos planos saíram-nos furados e acabámos por não chegar à ilha maddalena. a nossa viagem passou por porto torres, em que observámos do mais virgem e belo que estas paisagens nos têm para oferecer: a zona industrial. aconselho. passámos depois por uma ponte romana e achámos que os romanos eram parvos e rimos muito. durante a viagem é importante referir a gritaria dantesca proferida pelo nosso amigo ricardo. eu comecei a chorar e a sangrar dos ouvidos e disse: «sangue já há!». rimos todos muito até ao momento em que a nô começou a delirar grotescamente e a dizer que via o rio de janeiro a ser atacado pelo capitão hook. chorámos todos muito... visitámos, de seguida, umas ruínas no mínimo ridículas que para nosso desalento estavam fechadas, mas logo de seguida fomos surpreendidos por um comboio a passar. reparámos sabiamente que as cancelas das passagens-de-nível são para protegerem as frágeis carruagens dos carros, das pessoas e das velhas de andarilho, babadoras compulsivas. o sol estava a pôr-se e tivemos de nos apressar para montarmos as tendas ainda de dia. chegámos a santa teresa e fomos até um café para irmos à casa-de-banho e pedirmos informações. o ricardo deve ter começado a cantar novamente porque ouvi alguém a girtar «sangue já há!». extremamente engraçado. por sorte, encontrámos um parque de campismo ecológico que, na verdade, é uma praia deserta com pescadores a pescar. montámos as tendas na areia durante os loucos 7 minutos de lusco-fusco. antes, já a guigui tinha estabelecido contacto com os locais que se mostraram não-hostis e até nos convidaram para nos juntarmos à volta da fogueirinha e cantar canções e dar arrotos muito alto. alinhámos todos e depois do jantar, fomos aquecer os nossos formosos rabos na fogueira. ofereceram-nos álcool etílico em copos e disseram para beber, que revitalizava o corpo e a mente. tou a brincar, era só aguardente. despedimo-nos deles e estamos todos agora reunidos na tenda do tiago, da guigui e do ricardo. enquanto, muito concetrado, escrevo estas palavras, eles estão a cantar um jogo estúpido de adivinhar músicas. alguém sem nada para fazer e idiota deve tê-lo inventado de certeza.
beijinhos no nariz,
21:41"

João

"13.02.06

véspera do dia de são valentim: a margarida começa a mostrar sinais da neurose pós-dia-dos-namorados, também conhecida e diagnosticada, pelo DSM-IV, por ficar-para-tia-fobia. acabou agora de ligar o carro, vamos em direcção de nuoro. over and out!"

Tiago

"13.02.06, 13:09

primeira noite, como já alguém - tou no carro, não dá para escrever, escrevo depois."

Ricardo

"14.02.06, 07:38

bom dia! atrasámo-nos a escrever no diário e agora a margarida, a boa-fantástica-maravilhosa, vai ter de actualizar dois dias e duas noites. ora «vejemos»...
no dia 12, domingo, acordámos depois de uma noite horrível (a pior, espero...) na praia. um frio descomunal, um desconforto gigantesco... uma noite tão má que até parecem duas! quando acordámos, os polícias interpelaram o joão; curiosos do c****** queriam saber tudo: o que estávamos a fazer, desde quando, até quando, com quem, porquê, se dançámos com os pescadores, se tínhamos descalçado uma meia a seguir a cada sapato ou as duas no fim... enfim, muito curiosos! mas o joão despachou-os bem (deve ser a sua experiência com a polícia de todas as vezes que esteve preso pelos seus crimes hediondos que lhe deu esse paleio, mas não «diguem» a ninguém!).
bom, arrumámos tudo e fomos a santa teresa - a terra mais próxima -, lavar os dentes a um café onde também tomámos qualquer coisa quente. daí, partimos em direcção à madalena - a ilha - onde andámos à procura da panorâmica; panorâmica esta que se revelou, no final da volta à ilha, ser a própria estrada que contorna a ilha. da madalena, recordamos: as gaivotas a comer a comida que o ricardo achava que tínhamos pago mas que era desnecessária; o mar transparente (como em todos os lados); os marinheiros de partida para a guerra (acho que foram render o turno do ricardo na coreia); a cidade-fantasma; a paisagem bonita; o barco que só começa a andar quando chegamos à outra margem...
quando demos por encerrado o «giro» pela ilha, formos para a terra dos ricos, porto cervo, onde o solidário berlusconi tem uma pequena arrecadação para guardar as vassouras que usa na sua lida diária. aquilo até é giro, mas nada demais (o ricardo disse que ficou um bocadinho desiludido, mas gostou dos barcos). eu, se me dessem a escolher, não faria ali a minha casa.
daqui, fomos para olbia, essa bela localidade com passagens de nível loucas, estacionamentos no meio da estrada, igrejas em ruas sem saída, castelos inexistentes e hotéis caros junto a bombas de gasolina. as pessoas, no entanto, eram simpáticas e disseram-nos que, em s. teodoro teríamos um poiso agradável. metemo-nos à estrada, mas antes de atingir o objectivo encontrámos o paraíso: um parque de campismo com pessoas simpáticas (um senhor só e abandonaaaaado), casas perfeitas (com aquecimento, água quente, mesa, talheres, tv, caminha...), poucos gastos, etc, tudo o que 5 malucos mais desejariam depois da noite na praia.
e aí pernoitámos... rrrronc..... (ricardo bruto a dormir) zzzzzz..... (margarida doce a dormitar)

(vou lavar os dentes, já volto!)"

Ginja

"14:02 (não sei que horas são)

O MOTE DA CREW DO SARDINHA: VAI BEBÉ, VAI, VAI!

ora cá estou eu de novo! bamo lá cambada, refazer o dia de ontem, o próprio, o mesmo, é ele, 13 de fevereiro de 2006, um dia que jamais se repetirá e que nós passámos na sardenha, essa bela ilha no meio do mar mediterrâneo! e começou, como não podia deixar de ser (e o leitor atento, que tem seguido com minuciosa perspicácia e cuidada atenção o nosso relato, saberá desde já) com os gemidos e sorrisos de prazer que a noite no bungalow proporcionou. a leonor acordou com um sorriso nos lábios, mas ainda ninguém conseguiu perceber porquê. o ricardo acordou estúpido e barulhento, o que, de resto, não constitui qualquer tipo de novidade relativamente ao dia anterior. depois de tomar outro banhito, fui com a guigas a um supermercado fazer as compras para esse dia, enquanto o richie ficou na casa-de-banho. pois chegámos e esse belo espécime masculina tinha acabado de sair do banho, um verdadeiro atrasado! depois de todos estarem fresquinhos e limpinhos (e o plural masculino de «todos» não inclui as fêmeas, que descuraram vergonhosamente a sua higiene pessoal), tomámos o pequeno-almoço na mesinha da sala e íamos dar um passeio até à praia (para ver a rocha que se ergue, imponente, real, do mar azul... que poético...), quando esbarrámos nas cancelas, que, intransigentes, impediram a passagem dos viajantes. frustradíssimos, regressámos ao sardinha e pusemo-nos a caminho. dirigimo-nos a san teodoro, onde eu, finalmente, telefonei ao meu pai. antes, fomos a uma praia (de novo, de água cristalinas), onde tirámos umas fotos engraçadas e o ricardo ganhou ao joão no concurso dos peixinhos sobre a rocha."

Tiago

"14.02.2006

dia dos namorados: margarida toda fodida (não literalmente, para tristeza dela). já dormimos no aeroporto (veio a bófia chatear, continuámos lá), dormimos na praia (veio a bófia chatear): foi uma noite do caralho! frio, frio!! e queríamos nós trazer a tenda dos dois segundos! nem pensar, tínhamos congelado!
- estão a combinar o caminho, há uma base de mísseis mas o tiago não quer ir, eu quero, ver mísseis a partir tudo, talvez ele assim já goste do «black hawk down» -
depois, dormimos num bungalow a preço de tenda, a leonor e a margarida negociaram se bem que a margarida iniciou a negociação: deve ter prometido qualquer coisa. ontem andámos no grand canyon, andámos o caralho, sofremos por 20 quilómetros ou MAIS! não fosse pela preserverança da leonor e eu nem a metade tinha chegado, foi a maior, ela. para cá, conseguimos à tangente ver o caminho: podíamos ter morrido.
agora vamos para outra terra, não sei qual: nunca sei, não fixo o nome das terras

- comentário da margaróida: «eu tou boa!» oh yeah, se tá!
- comentário da leonor à música que estava a dar (não me lembro, ver pergunta): «muda essa merda!»
- porque parece tudo nome de massa, atum é bom!

vi um carro igual ao do gonça, tou com comichão no rabo. dormimos todos mal, menos a margarida, claro. dormimos no carro, a bófia veio chatear, o joão safou-nos bem, só um de nós é que foi para a choldra, não digo quem, mas repito que tenho comichão e dores no rabo.
não consigo escrever, a margariga tá a acertar em todos os buracos de propósito.
estúpida, eh eh

09:40"

Ricardo

"15:02

são qualquer coisa por volta das 5 da manhã e estamos a dormir (ou melhor, a pernoitar - sempre gostei desta palavra!) no aeroporto de cagliari, depois de termos pregado a peta do avião para milão aos dois polícis simpáticos que nos deixaram ficar... enfim, one's gotta do what one's gotta do! e eu estou prontíssimo para continuar o relato do dia 13 de fevereiro, que ficou interrompido pela intervenção de aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado... só mais um aparte: contra todas as expectativas, a margarida sobreviveu a mais um dia dos namorados. palmas para ela.
ora bem, depois de passarmos por san teodoro, achámos por bem entrar na auto-estrada principal e dirigirmo-nos a nuoro, o que nos levaria mais depressa ao nosso destino do dia, o grand canyon europeu. estávamos todos muito excitados.
pelo caminho, o terreno acidentou-se cada vez mais, mais montanhas e mais altas. finalmente, chegámos a nuoro, que não surpreendeu - uma cidade enfiada nas montanhas. decidimos explorar alguma da cidade e, apesar das setas indicadoras terem feito um complô para que não conseguíssemos, fomos ao monte ortobene, que tem uma vista incrível para todas as outras elevações rochosas e depressões geográficas das redondezas. foi, também, onde eu prendi a porta do carro com o cinto de segurança e onde o ricardo ficou excitadíssimo com uma vaca (citando o próprio: «quero tocar-lhe, quero tocar-lhe»... enfim...). resolvemos comer lá em cima no monte e depois fomos mesmo para uma rocha destacada, de onde a visão era incrivelmente ampla. neste lugar, aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado chamou-me chinês de merda. há que fazer uma pausa para reflectir nisto (ou, como diz alguém que eu conheço, i have to take a moment).

depois deste breve momento de introspecção, não podemos senão chegar à inevitável conclusão de que aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado merece uma morte lente e dolorosa. prossigamos. lá descemos do monte ortobene e fomos em direcção a dorgali, pois era por aquelas bandas que as informações da nô indicavam estar o gola su gorroppu, o já tão referido gran cañón (é assim que os espanhóis chamam ao grand canyon... it speaks for itself!!) europeu!
chegámos a dorgali. a nô e o joão dormem lá atrás e o ricardo não se cala. a nô e o joão acordam e o ricardo não se cala. vamos indo pela cidade, rua abaixo, rua acima, perguntando a várias pessoas por su gorroppu, ponte sa barva e etc., sempre para chegarmos a muito sítios menos àquele que queremos. até que uma menina com cara de anjo e um barrete colorido nos indica o caminho (só um aparte: todas as pessoas a quem pedimos informações são tão simpáticas! - excepto aquelas putas em olbia que nem olharam para mim - e tão prestáveis! temos mesmo de referir isto). claro que até chegarmos onde pensávamos que era o caminho correcto, perguntámos a não sei quantas pessoas mais, mas o que interessa é que, depois de percorrermos um caminho de cabras, chegámos ao quilómetro onde o carro teve de parar e abandonámos o nosso sardinha. partimos à aventura!
depois de uma breve caminhada, encontrámos um riacho que passava, com água cristalina e uma ponte de barras de ferro e uma corda, a convidar o temerário. o joão foi o único que a atravessou: a nô foi saltar umas pedrinhas lá adiante e eu, a guigas e o ricardo descalçámo-nos e atravessámos o rio numa parte baixinha: a água era tão fria que, ao fim de 5 segundos, já não sentíamos os pés!
sãos e salvos do outro lado do rio flumineddu (assim esperávamos que fosse, era a indicação que tínhamos), começámos a caminhada mais longa da viagem. o johny, apoiado no seu cajado, era o pastor, o ricardo, a ovelha negra, a nô, a ovelha ranhosa, a guigui, a ovelha tresmalhada e eu sou o tiago. fomos subindo, descendo, passámos por uma fonte (em que uma nô alterada por uma confusão hormonal que uma gravidez e uma menstruação simultâneas geram, gritou «não me apetece!», referindo-se à água que dela brotava), trepámos buracos, deslizámos por árvores, sempre ao longo so rio que corria lá em baixo sobre as pedras alvas, o que lhe dava um efeito divino. até que surgiu a dúvida: não chegávamos a lado algum, as setas (pintadas numa rocha ou esculpidas na madeira) continuavam a indicar incansavelmente o tão desejado nome, estávamos cansados e ameaçava escurecer antes que conseguíssemos voltar para o carro - continuar ou regressar? a dúvida surgiu algumas vezes, mas a esperança e a obstinação da nô fizeram com que seguíssemos sempre em frente. até que chegámos à grande-árvore-queimada-por-um-raio e decidimos parar. o gola su gorroppu estava só atrás da volta do próximo monte mas estava já inalcançável. voltámos para trás, rezando para que não ficasse de noite enquanto não chegássemos ao sardinha. apressámos o passo várias vezes, o que provocou efeitos divertidíssimos no equilíbrio das pessoas, mais conhecidos como resvalos, ou mesmo como quase-malhanços! o ricardo, lá à frente, não se calava; o joão, de quando em vez, abanava a cabeça, como quem concorda, embora já não estivesse a ouvir nada do que ele dizia. nós, cá atrás, riamo-nos. estávamos quase a chegar ao rio, à passagem, quando os 5, 7 minutos dos lusco-fusco e o breu nos engoliu nos seus trapos de engano. o pânico instalou-se entre nós! a nô gritava, descontrolada e hiperfónica, a guigui chorava, o ricardo continuava a falar. enquanto passávamos o rio, ocorreu um piccolo precalço: o pitosga enfiajou um pé na água. felizmente que os amiguinhos foram prontamente em sua ajuda e o guiaram, são e salvo, à outra margem. todos sentados no carrom estávamos (ar) rebentados! decidimos aproveitar e arrepiar caminho, dirigindo-nos para sul, para tortolì, onde pernoitaríamos. pelo caminho, no meio da escuridão e das alturas, vimos aquilo por que tanto anseáramos toda a tarde: o vale do su gorropppu, que o ricardo, perspicaz e pertinentemente, comparou a uma vulva aberta (em termos mais vernáculos que o decoro que impede de reproduzir). essa visão não foi menos que mágica. chegados a tortolì, procurávamos insistentemente o aeroporto, que nos proporcionaria uma dormida mais confortável e sem gastos. depois de calcorrearmos estradas sinistras e vaguearmos pelo porto da cidade (com nome de desinfectante), encontrámo-lo. rapidamente, desistimos da ideia de lá dormir e fomos à procura de um pouco onde estacionar o sardinha e descansar. a noite foi gira. apertados e tal. o plano: de três em três horas, dois do que estavam a dormir atrás acordariam os da frente para trocarmos. o joão seria o único com direito a dois turnos na frente, uma vez que ia conduzir. até apareceram uns polícias a juntar-se à festa e tudo! o ricardo foi o que dormiu menos, coitadinho... quando acordámos, todos chorámos com pena dele. assim que recuperámos (o que ainda levou uns bons 4 segundos), fomos à procura de um café onde tomar a primeira refeição do dia.

quase às 8h de 16.02"

Tiago

"19:09, a 2 ou 3 horas de fugir de itália, 16.02

tá a dar pela milésima vez o «let's talk»."

Ricardo

"16 de fevereiro, 21h37 - sala de embarque do aeroporto de alghero

o avião está atrasado. cenário: as pessoas civilizadas, sentadas nas cadeiras e os 5 tugas sentados no chão, com as malas espalhadas à volta. depois de terem sacado do farnel na sala de check-in e de terem enchido as cadeiras de atum. o ricardo veio agora de cagar. diz que fez um senhor cagalhão. demasiada informação...
ora bem, então a situação é a seguinte: não me apetece ir embora... nada mesmo. como ainda só escrevi uma vez aqui, vou fazer uma espécie de balanço da semana.
gran cañón: 2 horas a caminhar para ver uma fenda na montanha. e depois ver o gand canyon à noite, da estrada. a inteligência não abunda para estes lados. não, mas foi giro. o rio era um espanto, com um fundo visível cá de cima da montanha. as frases mais ouvidas foram «é já ali depois daquela curva» ou «andamos até às 5h», ou «voltamos para trás?». ficou provado que não há cansaço que cale o ricardo. quando voltámos, só se ouvia a sua voz a tagarelar e o joão a acenar com a cabeça.
a noite no carro: mais um contacto com a polícia italiana. ou não tivéssemos nós estacionado em frente à esquadra (eu disse que a inteligência não abundava para estes lados...). turnos de 3 horas, poucas horas de sono. o habitual. mas foi giro ouvir o ricardo a ressonar a noite toda e dizer, de manhã, que não tinha dormido nada...
ah! antes disso, veio a noite inesperada no bungalow! íamos para san teodoro à procura de uma pousada e passámos por uma seta que dizia «camping»... resolvemos tentar. inicialmente, parecia vazio. mas depois a margarida descobriu um homem e iniciou as conversações. começou por dizer que não nos cobrava a tenda mas, mais tarde, acabou por nos fazer um belo preço por um bungalow, em troca de favores sexuais.
quando entrámos no bungalow, os nossos olhos brilharam: água quente! aquecimento! casa-de-banho limpinha! camas quentinhas! televisão! só conseguia dizer «perfecto! perfecto!»... foi uma noite muito boa! as habituais sandes de atum, desta vez acompanhadas por um concurso de talentos na tv com 50.000 provas de canto e de dança para os mesmo desgraçados, que cantarm e dançaram a noite toda.

(já estamos no avião e o ricardo não pára de berrar e agora abana o meu banco e o do joão. o tiago tira fotos estilo turista japonês)

mais momentos altos... hummm... as viagens de carro. os coldplay, a alanis (com a música que só agrada ao tiago, mas que todos acabamos por cantar), a madonna, o robbie williams (que punha logo a margarida acesíssima) e muitos outros, os gritos do ricardo, o joão a dizer que tem fome, o tiago a cantar, a margarida a desesperar porque o ricardo não lhe dava indicações, eu e o tiago a enfiarmos os dedos no ouvido do ricardo, as discussões constantes entre o ricardo e o tiago, etc....
o sítio que gostei mais? a ilha maddalena e a costa junto a villasimius... adorei o passeio junto à costa desde villasimius até cagliari... aquele mar incrível... o sol que se punha... a sensação de liberdade por estar num carro com 4 doidos mais ou menos sem destino... um momento que certamente não esquecerei... mas chega de lamechices.
em cagliari, parecíamos mortos-vivos. arrastávamo-nos pelas ruas em busca de um restaurante (sim, é verdade, deixámos as sandes de lado por uma noite) e perguntávamo-nos se íamos ou não voltar a dormir num aeroporto. quando tentámos sair da cidade em direcção ao dito conseguimos passar 3 vezes pela mesma avenida e fazer 3 vezes os mesmos comentários idiotas. enfim, há que manter a coerência.
chegámos ao aeroporto e decidimos que tanga utilizar com os seguranças que, seguramente, nos viriam visitar durante a noite. fomos à procura de um cantinho e montámos acampamento ao pé duma exposição de fotos. adormeci poucos minutos depois e fui acordada pelo joão que, mais uma vez, tinha sido interpelado pela polícia. conversa do costume, dar o BI, voltar a adormecer. sair do aeroporto às 6h30 (com tempo para nos cruzarmos com os polícias a quem tínhamos dito que íamos para milão nessa noite) e ir tomar o pequeno-almoço para a marina de cagliari, enquanto o sol nascia. mais um momento kodak. o dia foi, para mim, o mais cansativo, passei a manhã e a tarde a dormir no banco de trás do carro. acordava para comer e dizer «ah que giro» e voltava a encostar às boxes. estava mesmo podre...
ao fim da tarde chegámos a um parque de campismo ao pé da praia. montámos as tenda e fomos até à praia... e depois comprar papel higiénico. o ricardo ficou a curtir o frio e o vento na praia. e a rebolar na areia. e nas algas. e a brincar com a pequena sereia...
próxima odisseia: os banhos. depois de muita luta, conseguimos ter água quente, mas houve alguém que a esgotou de uma só vez!! é incrível a falta de respeito que há neste grupo... o pobre do joão foi quem sofreu as consequências já que a água gelou precisamente no momento em que ele estava todo ensaboado... foi, portanto, um grupo de 2 lavadinhos e 3 mal-cheirosos que foi para o carro jantar sandes de queijo. e depois, já era hora da caminha já que os meninos do amor de deus não se deitam depois das 23h. foi uma noite incrivelmente reparadora... não acordei nenhuma vez, não tive frio e a única coisa que me perturbou foram os gritos dos macaquinhos chamados ricardo e tiago, de manhã...
e pronto, dia de visitas e tal. o céu cinzento, pela primeira vez esta semana. as cenas do costume dentro do carro, o ricardo que não se calava, as músicas do costume, a desorientação do costume (porque é que nesta terra não se fazem placas de jeito?), o almoço em bosa, junto ao rio, o regresso a alghero, a nossa mania de nos armarmos em rebeldes e tentar entrar nas grutas de neptuno sem pagar (comemos com um portão fechado a meio do caminho), o anoitecer, a tristeza da partida, a chegada ao aeroporto... onde passámos a nossa primeira noite e onde escrevi pela primeira vez neste diário.
tenho a dizer que adorei a viagem, percorrer as estradas desta ilha praticamente deserta, sem destino definido, sempre a dizer disparates, a rir, a desfrutar da paisagem, a aproveitar as surpresas que surgem todos os dias, o autêntico «go with the flow»...
vou ter saudades.

(o joão diz que são 23h20 sem olhar para o relógio e como ele tem sempre a certeza absoluta e como tem sempre razão, vamos acreditar...)"



"18.02.06

a viagem já acabou."

Tiago

----------------------------
Foram estes os últimos relatos dos 5 jovens portugueses desaparecidos na sardenha em fevereiro de 2006. não sabemos do seu paradeiro, se terão sucumbido aos escassos banhos e à consequente precária higiene pessoal, às poucas horas de sono diárias ou, simplesmente, ao tédio infligido pelas constantes intervenções comunicativas daquele que responde pelo nome de Ricardo. desde já, pedimos desculpa, pelas esperadas reacções negativas que a leitura dos seus escritos terá causado ao leitor, mas o rigor informativo obrigou-nos a publicá-los.
um bem-haja à margarida, ao joão, ao tiago, à leonor e (vá, ok...) ao ricardo, onde quer que estejam. que esta viagem siga sempre connosco.

9 Comments:

Blogger Marlene said...

lol

September 14, 2006  
Blogger tiago said...

não me digas que conseguiste ler isto tudo, amor? por acaso não encontraste nenhum erro, não?

September 14, 2006  
Blogger Marlene said...

lol, olha, se passei por algum, nem reparei... :) mas li tudinho sim sr.! Por quem me toma?? :p

September 14, 2006  
Blogger tiago said...

e gostaste? :)

September 14, 2006  
Anonymous Anonymous said...

*saudades* :)

September 15, 2006  
Blogger Marlene said...

Adorei!! :)

September 15, 2006  
Blogger Marlene said...

Beixinhux a todux ux que adoraram!!oh oh oh

September 15, 2006  
Blogger tiago said...

nô> saudades e muitas* :)

September 19, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Coitado de mim! Fizeram-me um monstro! EhEHEH!

Ricardo, o Grande

October 01, 2006  

Post a Comment

<< Home