liles
barcelona, 17 de dezembro de 2005 (casa do pêpê e plaça sant jaume)
encontrei-a na agência 117, enrolada num cachecol grosso, cor-de-rosa velho. olhava as prateleiras de roupa com o seu ar atento e distante ao mesmo tempo. já não nos víamos há mais de 9 meses. desde a véspera da minha partida: sentou-se ao meu colo e disse 'tenho de ir-me embora'. abracei-a e perguntei 'importas-te que chore?' (naquele momento quis chorar como um bebé, sem vergonha, chorar e berrar porque me faltaria algo, sem pensar no que pensariam os outros, chorar apenas). e ela chorou comigo. há 9 meses. olhámo-nos como duas pessoas que não se vêem há 9 meses. à procura de alguma diferença gritante, ou simplesmente a apreciarmo-nos. abraçámo-nos e beijámo-nos profusamente. risos tolos. fomos jantar à Cataplana, eu, a lília, a ju e o hugo. arrozinho de polvo e um jarro de tinto da casa. só espero que estes se aguentem cá dentro, pensei (isto, porque passei a noite passada a caminho da casa-de-banho, até me desfazer de todo o jantar na sanita). entre uma piada e outra, a segunda entrevista da miúda que ficou presa 8 anos numa cave e uns pandas quaisquer nos estados unidos. histórias de barcelona. histórias de lisboa, do lux e da faculdade. histórias. uma salinha no maria caxuxa, só para nós. mais histórias e mais festas. um copo de moscatel partido no chão - 'já tinhas acabado de beber, não já?'. saudades que se matam em tempos de silêncios e cumplicidades. a paz de um copo bebido, sentados num sofá, calados ou a rir. um salto ao palpita-me, o bar onde toca aquele gajo da floribella (que, agora, até já tem clube de fãs), simpático e simples. 'tenho de ir, apanhar o último autocarro'. a certeza de um laço, a certeza reconfortante de um laço que os nove meses não apagaram.