a mão e o peão.

Monday, December 18, 2006

excertos

o dia nasceu.
ouvem-se as suas parteiras,
as aves coloridas e histéricas, belas de tanta cor e tanta luz. (um quarto)

beijo as pétalas de uma rosa murcha,
rio com o marulhar do vento nas copas altas,
com o burburinho das águas nos seixos.

transcende-me e assusta-me e atrai-me
o sorriso azul clarinho de uma criança pura... (#3)

vi homens que olhavam o mundo e pasmavam
e outros que o sentiam perdido,
vi ainda quem o quisesse finado, destruído, em chamas
vi quem o amasse com a força de mil vidas
quem o defendesse, quem o violasse,
vi quem nem sequer o sentisse.

vem comigo amanhã encontrar a doçura de um sonho presente
e possível. (hoje andei)

ventos do norte, secos, aziagos
ventos cálidos e lascivos do sul
ventos do mar, cheirando a sardinha e a sargaço
ventos do deserto, trazendo areia e peles morenas
ventos polares, ventos tropicais. (anemofilia)

Cada número é uma vida e cada vida tem um fim
mas esse fim é como o fim do universo que abraço
por não o ter tem-no para mim. (impressões falaciosas de uma noite em que o vento uiva)

distribuir sorrisos como panfletos de campanhas. (peregrinação)

é saudade, um retalho da morte. (saudade)

capatazes vorazes
mandões
patrões
vozeirões
ninguém com um bom par de
razões. (#15)

o caminho vale
pelo que aprendemos e sorrimos
e choramos e partilhamos e ouvimos
e contamos e recebemos e damos e vemos
e sentimos e sofremos e deixamos
e amamos e somos amados... (#20)

veloz sensível em comunhão
cortará as águas desse mar mágico
sussurrando
meu nome é sophia. (a sereia)

quero ser e sentir que sou o mundo nos momentos em que me tens! (#23)

dêem-me vitrais com inscrições dogmáticas!
dêem-me leis, dêem-me normas!
dêem-me mandamentos!
condicionem os meus comportamentos
à exaustão ínfima do suspiro! (#24)

são eternas personagens
de um teatro-vida que escolheram sem querer.

mas o irrevogável teima em não vir.
o irrevogável lhes não há.

amargurados são, de olhar fixo vêm e vão,
aqueles que tudo têm para ser felizes,
mas não o são. (#25)

o céu
o azul marinho que é azul céu no horizonte
gaivotas pérola e amarelo enxofre sol no bico
um peixe dourado apagado areia lençol
alga lenhosa que voa verde
verde pende de uma pena
acena
a porta aberta
revérberos
horizonte

vida que se esvai enfim. (porta aberta)

lençol amarrotado
borra e cinza cigarro apagado
copo de vidro
berço de morte do gelo que no teu peito lambi. (xinstuí amas a vida e eu amo-te a ti)

dar-me-á alguém uma ponte por favor? (#32)

desde a madrugada
em que com uma caixa desesperada de comprimidos me mataste. (o retrato)

no verão
quando a lama ressequida estala e os sapos morrem (#35)

'obrigado pelos seixos que me deste
rolando maciços
ao suave calor de um sol amarelo clarinho

obrigado pelos versos
palavras-poema embebidas em muitos anos
de labirintos possíveis

obrigado pelos sonhos
que prontamente destruíste
nas noites de revelações e utopias

obrigado pelas mãos
pelas rugas e pelo sangue
que incutiste em mim

obrigado pelos caminhos
negros como escadas em caracol
que me levaram ao princípio do que eu era. (obrigado)

o futuro já não vai ser parido. (o aborto)

mas não há escorbuto ou mutismo
que cale o que
eu quero. (#39)

haverá quem me prove
que segundo após segundo
sem cessar
se alimenta o amor
de uma contiguidade exaustiva
e boçal?
(...)
que me perdoem se estou errado
porque
enfim
não sei lá muito disto...
mas
não é amar ser livre? (a falácia dos canibais)

0 Comments:

Post a Comment

<< Home