a mão e o peão.

Tuesday, October 30, 2007

tejo

pegámos no carro e fomos ver o rio.
nada como o sol em repousante certeza na nossa pele para nos trazer a concretude das coisas, a mágica concretude das coisas e nos roubar às nossas tragédias privadas.
a luz que afunda lisboa...
como um lençol, que dói ao pousar, silencia as nossas meninges em estilhaços neuróticos, abafadas (ou sei lá) pela beleza das coisas que há, pela (nem sei se angustiante, definitivamente tranquilizante) consciência das nossas próprias finitudes, recortadas ao vento e ao anúncio das gaivotas.
agora, sim. podemos falar.
sob o olhar amplo do rio, levados pelo carro.


Tuesday, October 02, 2007

vltava

nos jardins do louvre ou nas margens do vltava. numa esplanada na franziskaner platz, a beber um copo de vinho, ou num comboio entre dresden e praga, de mãos dadas, imagens que se sucedem lá fora, senhoras sextagenárias que falam das suas vidas e pequenas tragédias numa língua que não entendo. sentados aos pés da estátua do mais famoso poeta esloveno ou deitados nuns bancos de jardim, a sorver o sol suíço que não críamos tão mimoso. ainda há a estátua do menino que faz xixi e a potsdamer platz, percorrer o mapa de berlim em ânsias. há o frio que faz lá fora e o frio que faz cá dentro. pôde ser, também, a sesta no relvado e descer as escadas do castelo de praga a cantarolar o cigarrettes and chocolate milk. e a roda do before sunrise, projectada num céu plúmbeo. o teu corpo moreno, sorrindo no sul de frança. as horas infinitas em cima de carris, em que nada dizíamos e te sentia tão dentro de mim, dando-me a mão e puxando-me para fora de um poço. puxa-me, sim. puxa-me, sempre. às vezes, esqueço-me que não quero cair.

autumn leaves

numa mesa, num bar escuro, miles davis a tocar, bebo uma cerveja sozinha. as pessoas olham-me como um daqueles infinitamente interessantes boémios lisboetas; pensam que rabisco, neste pedaço de papel, uma qualquer obra literária, um poema desencantado, uma intelectualidade. no entanto, mais não sou que um pobre esquecido, cujo encontro não foi cumprido e a combinação se perdeu no mar de coisas infinitamente interessantes que tens para fazer.
no hard feelings, babe.