o aborto
foram milhões de anos
de uma gestação difícil
conturbada por muitas guerras e muito sangue
muitos cortes rápidos e definitivos
de muitas árvores da vida
foram grutas natas
e construções inauditas
fogo papel e roda
os filhos dos filhos
os barcos os poemas as tintas o vidro
foram passagens de século
vincadas por abraços e beijos
foram berços abertos às sementes do céu
e berços fechados com o estrume da terra
ciclos que nunca serão completos
e agora
neste segundo em que lêem segundo
o presente
esse execrável presente que se fecha em si mesmo
vem
e diz-nos que abortou
o futuro já não vai ser parido.
abril, 2003
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