a mão e o peão.

Monday, February 05, 2007

jazz gig

chegou e sentou-se a uma mesa redonda. cruzou as pernas e, instantaneamente, começou a abanar os pés aos ritmos quentes que se desprendiam do palco. da voz que trepava as paredes do bar e se colava em tudo o que mexesse, sedutoramente. uma sanduíche de salmão fumado e um copo alto de vinho tinto. um olhar em volta bastou para que se apercebesse que ninguém ali lhe despertava a atenção; a partir daí pôde curtir o concerto sem essa pressão nefasta e irreprimível de ter que seduzir alguém. o acto da sedução animava-o e agastava-o em proporções iguais: ao mesmo tempo que não se conseguia coibir de destilar charme e interesse obscuro por alguém que visse, achava-o desnecessário e até, ligeiramente, obsceno. ele sonhava com o dia em que (como num passe da mais pura magia humana), sem esforço ou desconforto, uma ligação natural despontaria, sem a mais ínfima ponta de insalubridade, os afectos se instalassem inapelavelmente.
por enquanto, limitou-se a apreciar o som que lhe martelava, suave, os ouvidos. como uma sedução unilateral - e segura.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Gostei do meu texto das boas vindas. Calhei num jogo bem trabalhado. Até aqui bati os pés ao som dessa maré de palavras.

February 07, 2007  

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