a mão e o peão.

Wednesday, November 15, 2006

desculpe, este comboio vai para? (03.11.06)

chegámos ao aeroporto de budapeste uns vinte minutos antes das três da tarde, hora local. o piloto havia dito que faziam 2 graus na capital húngara, o que nos abriu logo o apetite! saímos para a rua e o frio confirmou-se. cachecóis, gorros e luvas em riste, depois de comprado o bilhete de autocarro, pusemo-nos a caminho da estação de köbania-kispest. a viagem demorou uns curtos vinte minutos, não tão curtos, contudo, quanto o preço do bilhete (185 forint, o que equivale, arredondamente, a 70 cêntimos de euro) faria supor. chegados à estação referida, foi tempo de exercitar a nossa linguagem corporal, a capacidade de vocalizar internacionalmente e de improvisar línguas absolutamente desconhecidas. apresentámos o papelinho em húngaro, que nos tinha sido gentilmente cedido pelo szabolcs e lá conseguimos obter os bilhetes de comboio para kiskunfélegyháza, onde iria ser o training course. encontrar-nos-íamos com o cláudio e a patrícia dentro do comboio, uma vez que eles o apanhariam em nyugati, a principal estação ferroviária de budapeste e que de onde o comboio partiria. quando faltava um quarto de hora para a hora marcada, fomos andando para a linha correspondente, perguntámos a uma moça se era ali que passava o comboio para kiskunfélegyháza, ela disse que sim (falava inglês!) e esperámos. passados uns minutos, surgiu uma locomotiva verdadeiramente grotesca. antiquíssima, em mau estado, parecia saída de um filme dos anos 40. lá entrámos, embora ainda não fosse a hora do comboio (pensámos que ele esperaria na estação pela hora correcta e, só depois, arrancaria) e começámos a tentar perguntar aos rapazes que estavam ao pé da porta se ia para onde queríamos que fosse. eles só nos conseguiram dizer que não (pânico) quando as portas fecharam e aquilo começou a andar... tentando não entrar em histeria incontrolável, eu e a anita lá compreendemos o esbracejar dos moços e, posteriormente, do revisor, que também não falava/compreendia uma palavra de inglês, e decidimos sair na próxima estação, para esperar o comboio correcto, que viria atrás de nós. por esta altura, já o leitor atento terá percebido que também este plano saiu furado e só me resta contar a série de desventuras que se seguiram, já noite cerrada, graus negativos e a hungria profunda. pois, saímos mesmo na próxima estação, de seu nome monor. com os pés já a doer de tão gelados, esperámos que viesse o próximo comboio. chegou um, mas não ia para kiskunfélegyháza. os outros dois passaram sem parar. outro veio que parou, tão-pouco seguia o nosso destino. começávamos a desesperar. trocávamos mensagens com a patrícia, que nos dizia que havia perguntado a alguém no comboio (sim, o correcto) se passariam por monor. disseram-lhe que sim, dentro de vinte minutos. achámos estranho, não nos parecera que demorara tanto a chegar ali, mas ficámos mais aliviados. até que, passados uns minutos, nos mandou outra mensagem a rectificar: já tinham passado por monor há vinte minutos. olhámos um para o outro com o olhar de mais puro desespero. decidimos ir à bilheteira da erma estação (o que ainda não tínhamos feito com medo que o comboio passasse), pedir informações. obviamente, a querida senhora não falava inglês, mas lá rabiscou num papelucho como ir para a tal cidade. teríamos de apanhar o comboio que passava ali, e parava em kecskemét, às 18:33. quando olhámos para o relógio, eram 18:30. desatámos a correr, com as malas aos saltos, e saímos na linha mesmo a tempo de apanhar o comboio. instalámo-nos e procurámos por alguém com cara de saber falar inglês. acertámos na mouche e quando perguntei ao simpático casal se nos poderia informar quando chegássemos à estação de kecskemét, eles respondem-me: ah, este comboio não vai para kecskemét! quase chorei, ali, à frente de uma molhada de húngaros, todos loiros. bem, o simpático senhor lá ligou para alguma estação, não sei qual, e depois fizeram um roteiro (sim, porque com tanta viagem, quase parecia um roteiro turístico pela ferrovia húngara): sair em cégled, apanhar outro para kecskemét; sair em kecskemét, apanhar outro para kiskunfélegyháza. assim, fizemos. no último, pedi a um senhor que me indicasse quando estivéssemos a chegar, pois para além da janela, só o breu se via, mesmo quando parados nas estações. ele perguntou-me parlez-vous français?, ao que eu respondi um tímido un petit peu e ele, num francês engraçadíssimo, disse quan nous arrivons, je parle pour que vous descendons de le train (ou qualquer coisa assim). chegados ao destino final, mais uma partida o destino nos pregou - tivemos que ir a pé, desde a estação até ao restaurante onde já estavam todos os participantes do seminário a jantar, ao frio, com as malas a resvalar, sonora e dolorosamente atrás de nós, pelo chão, nos meio das folhas caídas.
depois deste mau começo (que, visto doutro prisma, foi apenas uma aventura), o projecto revelou-se maravilhoso, criativo, surpreendente. mas disso falarei num próximo episódio. inté, minhas gentes.

1 Comments:

Blogger Miguel said...

Ó pá, tás bem, tens fome?

Que coisa! Olha, pelo menos deu um post giro, uma história para os netos a rara oportunidade de escrever os nomes das terras e estações em húngaroe confessa, fizeste a rodagem à mala!

Se bem regressado e conta mais!|

November 16, 2006  

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