a mão e o peão.

Thursday, August 31, 2006

tributo.

poeta algum me fala aos sentidos e, consequentemente, às sensações, como Sophia de Mello Breyner Andresen. no dia da sua morte, 2 de julho de 2004, escrevi-lhe.

espero-te junto ao mar
testemunharei quando vieres
o cumprimento e a existência
dos instantes que não viveste

nos meus dias de tristeza
de uma tristeza que melhor dor seria
nos meus dias de tédio
de morte e Incertezas
(assim com maiúscula e tudo)
de luta desesperada e auto-alimentada

sairei de casa
do meu quartinho banal
de plebe

para ir-te ver
numa praia qualquer
num qualquer inverno brando
encontrando os segundos os mundos
que não viveste junto ao mar

encontrando as conchinhas
os restos de medusas e anémonas histriónicas
que
quando viva
não admiraste vivas
estiradas nos espaços.

assim
nua e sozinha
perdida e achada
só num ar aberto numa fenda imensa de luz funda
depositada na areia
a água do mar lambendo os teus pés
como uma pedra

e eu vou ver-te
escondido numa duna
e depois vou escrever-te
numa casa nocturna onde todas as crianças dormem
como as tuas.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home