tributo.
poeta algum me fala aos sentidos e, consequentemente, às sensações, como Sophia de Mello Breyner Andresen. no dia da sua morte, 2 de julho de 2004, escrevi-lhe.
espero-te junto ao mar
testemunharei quando vieres
o cumprimento e a existência
dos instantes que não viveste
nos meus dias de tristeza
de uma tristeza que melhor dor seria
nos meus dias de tédio
de morte e Incertezas
(assim com maiúscula e tudo)
de luta desesperada e auto-alimentada
sairei de casa
do meu quartinho banal
de plebe
para ir-te ver
numa praia qualquer
num qualquer inverno brando
encontrando os segundos os mundos
que não viveste junto ao mar
encontrando as conchinhas
os restos de medusas e anémonas histriónicas
que
quando viva
não admiraste vivas
estiradas nos espaços.
assim
nua e sozinha
perdida e achada
só num ar aberto numa fenda imensa de luz funda
depositada na areia
a água do mar lambendo os teus pés
como uma pedra
e eu vou ver-te
escondido numa duna
e depois vou escrever-te
numa casa nocturna onde todas as crianças dormem
como as tuas.
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