a mão e o peão.

Thursday, August 31, 2006

o alquimista

nas ruas ermas
os chãos de laje fumegam, como a pele de uma
galinha escaldada.
por entre os fiapos de neblina,
um homem equilibra-se na obliquidade das arestas.
as paredes das casas atiram-se do alto
e as janelas são órbitas sem globos, ocas e agrestes.
vida, se a há,
escoou-se para dentro como lesmas retraídas
no mais fundo das suas conchas espiraladas. as suas peles ácidas.
os candeeiros da rua são balões de uma luz difusa
que vai lambendo devagar as pedras e os corpos.
esta cidade de vielas,
sitiada entre campos sem fim nem dono,
crestada ao som dos dias parados
como pratos sujos e frios,
enruga em cada esquina o peso das horas
e é velha e cheia de medo.
nas mãos do alquimista,
uma promessa de solidez,
uma fórmula de as coisas serem as coisas
e estarem onde estão. não este abandono transparente de fissuras,
não esta secura, este estalar de fibras.
nas mãos e nos bolsos do alquimista,
um regato e um olhar vivo.

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