a mão e o peão.

Monday, November 12, 2007

olissipofilia

não há luz como em lisboa.
em mais nenhuma cidade, o pó se levanta, inócuo, suportando um fulgor discreto. é a luz que permanece, sobre o rio, sobre a ponte, sobre as colinas e as casas que rolam por elas abaixo.
só em lisboa, os transeuntes andam como andam em lisboa.
óculos da moda. sapatilhas da moda. em lisboa, até aqueles que se vestem mal são necessários, como em nenhuma outra cidade. transportam uma segurança construída em inevitabilidade, uma desarmonia aceite. cada um está porque é. lisboa presente e concreta.
só em lisboa, as lâmpadas acesas nas casas decrépitas e o glamour de fim de tarde, um copo de vinho e o rio.
não há amanhecer como o de lisboa.
quando os corpos mal arrancados às camas se espraiam pelas vielas, os autocarros afadigam-se nas suas andanças fixas e os lisboetas fumam cigarros rabugentos. o jardim do tabaco emerge da noite em palmeiras mal definidas, há azul-gaivota no ar, chegam barcos e comboios.
as pessoas demoram a começar a sorrir.
e depois.
o sol benevolente. a luz distraída que absorve lisboa.
os tambores que soam do outro lado da cidade, as crianças que invadem a estrela aos gritos de liberdade, os bocadinhos de pão a voar no príncipe real. pombos.
não se ama como em lisboa.
como nas ruas de lisboa, nas escadinhas atrás da sé, nas parisinas veias aveludadas de campo de ourique, no castiço bairrismo kitsch da nossa capital.
ama-se muito em lisboa.
ama-se, mais ainda, lisboa.
dela, cantam-se os poetas e os fadistas.
dela, cantam-se os pregões e os vestidos nas janelas.
as colinas, os cafés e o rio.
dela, canta-se a luz.
lisboa iluminada, regada e amada.

1 Comments:

Blogger SP said...

estive aqui. um abraço...

April 04, 2008  

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