primeiro de julho
no início, era a incerteza. escolhemos cozinhar beringelas recheadas, embora nenhum dos quatro (o A, a L, eu e o J) soubesse como fazê-lo. como é nosso apanágio, não desistimos perante esta dificuldade assustadora e pusemo-nos a cortar legumes como se o amanhã não viesse. enquanto isto, já a primeira garrafa de vinho se abrira sozinha (misteriosamente) e derramara o seu precioso néctar em 4 copos brilhantemente dispostos à nossa frente. o A ficou responsável por tirar o recheio às beringelas e temos a dizer que fez um fantástico trabalho. foi comovedor ver como evoluiu da primeira à última (8, ao todo) - a princípio, deixava imensa polpa agarrada às cascas e fazia-lhes golpes mas, no final, pudemos elogiá-lo, sinceramente, pela mestria conquistada. depois de feito o recheio, ao som da peaches, enchemos as beringelas (que, creio, por esta altura já teriam sido baptizadas como 'berenguelas recheadas à la pedrosa' - "berenguelas" em homenagem ao J que, coitado, di "courguettes" em vez de courgettes (todos o apoiámos muito) e "à la pedrosa" em referência ao magnífico chalet pedrosa, onde toda a acção gastronómica decorreu!) e enfiámo-las no forno. o pitéu prometia!
passados uns minutos regados a vinho, ali estavam elas, tostadinhas e cheirosas, enroladas em papel de alumínio e uma saladinha de alface e couve roxa a fazer-lhes companhia nos nossos pratos gulosos. e, aí, foi comer.
depois, foi um pulo até um bar onde se canta o fado e outras inconsequências. onde pudemos apreciar a "canoa" na voz aplicada de uma senhora brasileira que também cantou o "vambora", ao som dos nossos copos a tilintar de sangria. a conversa prolongou-se por outro tasco e aprofundou os seus temas, pelas esquinas do preconceito e das relações amorosas falhadas. cerveja após cerveja. e o empregado madeirense.
de volta ao chalet, nada como uma busca intensiva de vídeos da nossa infância no youtube. os ursinhos carinhosos ficaram-me, especialmente, na memória, assim como o pónei roxo do A. estacionei aos primeiros acordes do paul mccartney, numa canção de uns desenhos animados quaisquer, que pôs os meninos a sorrir e a abanar as cabecinhas, embevecidos.
não sei se sinto as coisas intensamente demais mas é a noites como estas (simples e belas) que tenho vontade de compor elegias e guardá-las na gaveta que fique mais próxima da minha lembrança. assim... para sempre.
2 Comments:
às vezes também tenho essa mesma dúvida, parece que sinto de uma forma exagerada os pormenores e os pequenos momentos..como esta noite. e a tarde à beira do rio. e as macacadas em cima da ponte. e o prazer de conhecer, descobrir..
Excelente descrição!
A meio da leitura pareceu-me vir da cozinha o bafo das beringelas a pedindo para saltar do forninho. No fim o telintar dos copos de vinho.
Um brinde a estas noites que nunca se perdem da memória! Tchim Tchim
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